O MEU PIPI
Um português abriu um blog na internet. Não sabe o que é um blog? Pergunte ao seu filho. Chamado "O Meu Pipi". Uma editora (séria) portuguesa achou o lusitano pipi e transformou-o em livro. Uma editora brasileira sentiu o cheiro do sucesso (oitava edição, mais de cinquenta mil livros vendidos, lá) e vai lançar o pipi entre vocês.
E o que tenho eu a ver com o pipi português? É que me chamaram para traduzir, para transformar o pipi português em pipi brasileiro. A senhora acha que todos os pipis do mundo são iguais? Ledo engano. Há que se traduzir. Por exemplo? A senhorita sabe o que é c....? Panasca? Pila? paneleiro? Tirar os três? Pois, pois. E br...., minha amiga, posso lhe garantir que não é "jóia ou bijutaria provida de um alfinete longo ou de um alfinete com fecho, que se usa geralmente ao peito para prender e/ou enfeitar uma peça de vestuário". Não, não é nada disso.
Mas eu não estou aqui para falar da tradução em si, apesar de poder adiantar que se trata de sacanagem pura, maravilhosamente bem escrita, pelas páginas da internet.
Do que eu quero falar hoje é sobre blogs. Se não sabe o que é blog, pergunte à sua avó.
Há quatro anos venho dizendo para os donos das editoras brasileiras (editoras de livros de papel) que o futuro da literatura está na internet. A quantidade de sites e blogs pessoais - só no Brasil - passa de 20.000 segundo cálculos cá meus. Se as editoras contratassem um especialista em internet para ficar fuçando lá durante oito horas por dia, teriam uma surpresa tão boa quanto "O Meu (dele) Pipi".
Quando a minha geração começou a escrever, mostrava os textos para um primo, um poeta local ou simplesmente guardava na gaveta. Quantos e quantos escritores da minha idade não ficaram no meio do caminho?
Hoje, não. O sujeito coloca tudo o que escreve no monitor, cria sites e blogs com a maior facilidade. E, ali fica exposto à visita pública. Poderia aqui citar mais de dez blogs brasileiros que estão merecendo virar livro de papel, mas não vou fazer isso. As editoras que entrem no século vinte e um e se virem.
Vejo mães e pais preocupados porque o filho ou filha ficam seis horas por dia na internet. Relaxem, meus amigos. Tudo o que ele vai ver é um pouco de pornografia e depois fazer uns joguinhos. Mas, depois, ele vai entrar num chat e ficar a conversar com desconhecidos. Escrevendo bobagens, mas não importa. O que eu quero dizer é que nunca a língua portuguesa foi tão exercitada como agora, com o advento da internet. "O Meu Pipi" por exemplo. Ninguém sabe quem é o autor. Nem eu, que o traduzi. Mas desconfio que seja o pseudónimo de um grande escritor português. Um Miguel Esteves Cardoso, por exemplo. Porque, se for algum principiante, a minha tese está certa. Surgiu um novo escritor da nossa língua. Novo e já excepcional.
E vou terminar citando uma frase de Paulo Markum, jornalista, escritor e grande blogueiro:
"Tenho a certeza que os blogs serão para a literatura o que os campos de várzea foram para o nosso futebol. Parece pouco, mas pergunte onde é que todos os craques brasileiros começaram a jogar. E quem pensa que existe muita diferença entre escrever e jogar à bola, está redondamente enganado (sem trocadilho). Num jogo como noutro, só se aprende suando a camisola".
- Mário Prata in "Cronicas" -