28/10/03

Tenho um amigo na bloggsfera. Não nos conhecemos pessoalmente, mas tem sido o meu confidente, e até porque não dizê-lo, o meu conselheiro. Às vezes é mais fácil falarmos com um desconhecido, fazer perguntas, expor a nossa vida, os sentimentos, as tristezas e alegrias.
Ontem escrevi-lhe e fiz algumas perguntas acerca dos homens e da forma como reagem, ao que ele me respondeu:

"...andei a passear no teu blog e a chuva de ontem fez-te melancólica - mas é assim, quase sempre, a chuva.
Mostra como gostas àquele de quem gostas - se me permites meter-me nisto. Mas já que invocaste a minha natureza masculina para teres a sensação deste lado, aqui vai:
A diferença essêncial, na maior parte das vezes, creio eu, é na forma como se exprime o romantismo: no homem o romantismo tem muitas vezes uma componente física que é quase decisiva; nas mulheres, por outro lado, mesmo quando gostam muito de sexo, têm dificuldade em associar o sexo ao amor, quase os separam - organizam o terreno dos sentimentos e o físico em esferas diferentes. Eu acho - pelo menos é o que acontece comigo - que os homens têm sempre os dois ligados.
Indo mais à essência da tua nota acho que, salvo algumas excepções e situações, nenhum homem tem um relacionamento minimamente prolongado com uma mulher (ou seja, mais que uma vez se quiseres pôr as coisas desta forma) a menos que sinta alguma coisa por ela em conjunto com a atracção e prazer físico que exista também.
O dia seguinte é a pior coisa de gerir: diria que o homem quer revê-la porque quer voltar a associar o lado físico ao emocional e muitas vezes as mulheres querem toda a atenção quase exclusivamente para o lado emocional. Nisto, é claro, não há regras - mas separar o lado físico do mental (e emocional) é geralmente má opção. É certo que os homens são, digamos, menos exclusivistas e as mulheres mais exigentes em termos de afectos e atenções. O problema surge, acho eu, quando se começa a torcer só para um lado - o do sexo ou o dos sentimentos. Não há paixão - mesmo sexual - sem sentimentos. Ás vezes há sentimentos sem paixão nem sexo. Este lado da vida humana é a coisa mais complicada da existência. Mas às vezes pode-se escolher - melhor, pode-se localizar e tentar.
Experimenta tentar viver a vida como um homem - como a que tu descreves. Experimenta atrair, seduzir, usar e depois passar para outra. Serás capaz? Talvez assim percebas que o gozo da conquista e da concretização às vezes esgota tudo o resto - mas quando há critério na escolha há uma envolvente emocional para além do prazer da caça - e é certo que o prazer da caça (fazer o cerco e saber que se pode comer a presa) existe e não é de desprezar. Tenho um amigo que já nem vai com as mulheres que atrai para a cama. Rodeia-as, insinua-se, fá-las apaixonarem-se. Quando as mais resistentes - mesmo as casadas - se deixam ir num beijo nem as quer ver mais.
Conquistar é bem mais fácil que manter a sedução - emocional e física, concretizá-la, repeti-la. Os grandes amantes, que se devoram ao longo dos anos mantendo distãncias e vidas separadas, passam por provas maiores que todos os outros: tudo podia acabar de repente, mas existe sem obrigações porque há amor, físico e emocional. Os grandes amantes da História são as mais bonitas histórias de amor, já reparaste?"


Obrigada pelas tuas palavras e pelo tempo que me dispensaste, meu amigo desconhecido! Hoje está sol e fizeste-me sorrir. Valeu!!
Ah, e já agora, o CD que estava a ouvir ontem é da Diana Krall.