29/08/05

Como estou sózinha há quinze dias, aproveitei a ocasião e no escasso tempo que tenho estado em casa, mais propriamente no sábado passado, aproveitei para fazer uma «limpeza» no quarto do meu pequenino. É dificil isso acontecer quando ele está em casa, porque não se quer desfazer de absolutamente nada. Para ele tudo tem utilidade, mesmo os brinquedos com que já não brinca porque já não são para a sua idade. Enfim! Como tal meti-me no quartinho dele e toca a fazer uma escolha.
A certa altura olhei à minha volta, para aquela montanha de brinquedos e recordei os meus. Lembro-me que não havia por exemplo tantos jogos, e puzzles. Os brinquedos daquela altura resumiam-se mais a bonecas, livros e carros para os rapazes. Como lá em casa só havia meninas, os nossos brinquedos eram as bonecas. Havia imensas e muitos livros! Tinhamos - e ainda temos, na verdade - as colecção de livros "Dos Sete", os "Cinco" a "Anita" - uma colecção muito bonita com umas imagens que me fascinavam e que ainda hoje existe - a colecção "Dos Quinze" - Quinze Jovens como Nós, Quinze Histórias de Encantar, Quinze Maravilhas do Mundo, etc. Na verdade, não faltavam livros para ler lá em casa, até porque não existia a televisão. Os serões eram passados a ler, a estudar, ou em casa de amigos a conversar!
Lembro-me perfeitamente que a primeira vez que vi televisão tinha eu treze anos, na Rodésia, quando lá fui passar férias com uns amigos. Ficava simplesmente fascinada com a publicidade. Qualquer coisa que estivesse a fazer era interrompida quando chegavam os intervalos e começava a dar publicidade. Hoje mudo de canal quando ela chega!!
Voltando aos brinquedos da minha altura e dos actuais, não invejo os meus filhos pelo que eles têm, pela variedade, porque no meu tempo não havia muitos brinquedos e muito menos tanta variedade. Não havia computadores, jogos e internet. Mas tinhamos a liberdade de brincar na rua. Às escondidas, saltar à corda, jogar à "macaca" - nunca percebi porque se chamava assim esse jogo - subiamos às arvores, andavamos de bicicleta nas ruas sempre à vontade, jogavamos ao lenço. Recordo que uma das casas onde vivi tinha uma escadaria de cerca de trinta degraus. Faziamos apostas de quem conseguia saltar de mais alto. Começavamos no décimo e iamos subindo de dois em dois e toca a saltar cá para baixo. É claro que por vezes a coisa não corria nada bem e conforme a altura dos degraus ia aumentando o risco de pés torcidos e grandes trambolhões também ia sendo maior. De vez em quando lá havia alguém a chorar à séria. Passado algum tempo já ninguém se lembrava!
Andavamos com as pernas sempre esfoladas...mas viviamos em pleno a idade da inocência, da infância, não estavamos trancados em casa. O tempo chegava e sobrava para tudo. Tinhamos liberdade. E quando a noite chegava, esgotados por mais um dia de brincadeiras felizes...adormeciamos e sonhavamos!
Sonhos lindos, como aquele dia que tinha chegado ao fim!
Sentada no tapete do quarto do meu pequenino, lembrei os meus sonhos e a inocência que me traiu...
A realidade, a vida, o ser «grande» não é nada do que eu imaginei...e sonhei!!