27/06/07

Foto: Ricardo Duarte

Sou uma mulher comum, como tantas outras que comigo se cruzam todos os dias. Coloquei a máscara da realidade e abandonei a que trazia comigo: a da fantasia! Uma razão gélida invadiu-me a alma e apagou qualquer réstia de calor que comigo trazia e me alimentava o quotidiano. Afinal, não há como fugir da realidade. Da nossa. Até pudemos fingi-la, pintá-la com outras cores, mas o tempo encarrega-se de colocar as cores originais da nossa vida.
Parece-me que o tempo apagou as palavras bonitas, escritas, sentidas, vividas! Tudo me parece tão distante, como se um vento tivesse dissipado essas palavras, os sentidos e, até, as emoções.
É como se fosse um livro que deixei de folhear. É como se os sentidos se tivessem escondido por entre muitos outros sentidos que sempre mais me tocaram, e que fizeram parte da minha vida.
A delicadeza com que escrevi cada palavra, a suavidade com que recordava cada imagem, o silêncio que me rodeava naqueles momentos, os sonhos com que me cruzei, o percorrer de cada instante, o fechar dos olhos e inspirar o aroma que tão bem conhecia, o esquecer da noite e o não importar que amanhã seria outro dia... tudo ficou distante! Deixou de fazer sentido, sentir!
E eu acreditava que jamais haveria algum tempo que me fizesse esquecer o que era presente - o que era momento - ou algum vendaval que trespassasse a intensidade daquele sentimento real, forte, intenso, único, verdadeiro! Mas dei conta que - afinal - era pequeno, porque não era importante.
E as palavras - as minhas saudosas palavras - estão apenas aqui ainda despertas, vivas, escondidas atrás de um tempo, como lenha seca à espera que o fogo do tempo as transforme em cinzas. E já não há mais tempo que detenha o curso do tempo.... É imparável!
E, então, apagam-se as luzes, apenas arde o fogo que consome as palavras escritas, vividas, sentidas e quase nunca faladas, sussurradas!
Resta a escuridão, e o silêncio! Os dias irão adormecer à sombra de uma noite que foi para lembrar! Não sei se é tarde, se é cedo, para voltar a acreditar... sei, apenas que é um momento!
Um momento de saudade de escrever! O vício de escrever!
As palavras morreram! Despem-se os sentimentos! O coração já não bate...!
Quero nascer do nada. De novo.
Boa noite.