Ao contrário do que estabelece o ditado, sempre me pareceu que uma das piores situações que se pode criar entre seres humanos é a vivência do silencio.
A palavra poderá ter imensos inconvenientes, mas é veículo de comunicação, tentativa de diálogo, meio de despertar o outro.
O silêncio, muito apreciado em geral pelos seres ditos como superiormente inteligentes, peca, quanto a mim, por estabelecer entre as pessoas barreiras dificilmente transponíveis, ou, de outra forma, por cavar fossos tão fundos que quaisquer elos que possam existir correm o risco de se partir.
É uma verdade que, em certas ocasiões, o silêncio, por omissão, pode resolver com mais facilidade alguns problemas do que uma discussão acalorada. Mas também é verdade que, mais tarde ou mais cedo, esse silêncio vai ter que ser explicado...
É uma verdade que, em certas ocasiões, o silêncio, por omissão, pode resolver com mais facilidade alguns problemas do que uma discussão acalorada. Mas também é verdade que, mais tarde ou mais cedo, esse silêncio vai ter que ser explicado...
No caso concreto do nosso dia-a-dia o silêncio seria, talvez, mais prático. Mas não creio que seja eficaz.
Há situações em que o silêncio é quase insuportável, porque deixa caminho livre a mil e uma interpretações sobre o seu significado.
Quando entre marido e mulher ou entre pais e filhos o silêncio é a única possível, sou levada a dizer que algo está profundamente mal. Não me refiro, como é evidente, aos silêncios parcelares de que todos necessitamos um pouco. Falo dos silêncios instalados de tal modo que cada dia que passa mais não faz que adensá-los ou, até mesmo, transformá-los nos chamados «ódios surdos».
Com efeito, pressupondo o diálogo um mínimo de duas pessoas, ou ambas estão disposta a conversar ou, então, estamos perante um caso de difícil solução.
Creio, contudo, que quando esta situação se verifica não basta, apenas, que um queira falar. É necessário levar (o que é diferente de «obrigar») o outro a fazê-lo, e para tal há uma linguagem que considero tão eficaz quanto a da palavra: trata-se da ternura.
A ternura constitui, penso, um dos meios que mais pode facilitar o diálogo. E mesmo quando esta não surte o efeito desejado tem, pelo menos, a vantagem de, na maior parte dos casos, pacificar situações tensas.
É claro que quando falo9 de ternura, refiro-me às ocasiões em que ela é possível, nomeadamente ao nível do quadro familiar.
Se se trata de questões profissionais ou quaisquer outras, em que um tal meio não possa ser utilizado, sugiro, então, uma versão da ternura para tais efeitos, que é a paciência... Direi mesmo, paciência construtiva, o que é para mim sinónimo de diálogo stand-by.
Por educação e por opção, a minha via é a da palavra. É-me difícil viver situações com o denominado «silêncio de cortar à faca». Direi até mais: entre um silêncio deste tipo e um diálogo violento, eu prefiro o segundo, embora correndo o risco de ouvir aquilo que não desejaria. Porque, pelo menos, fico esclarecida.
Todos nós vivemos, já, situações deste tipo. Mais ou menos magoadamente. Eu própria já as vivi e devo dizer que, enquanto «as palavras leva-as o vento» e o tempo, os silêncios, esses, recordo-os alguns com tanta nitidez que, ainda hoje, me aparecem como um imenso bloqueio, como algo que não soube resolver
Aliás, a palavra, mais do que tentar convencer o outro da nossa razão, deverá servir para tentar percebê-lo.
O silêncio, pelo contrário, afastando-nos dos outros, não permite a eficácia da palavra, dificulta o gesto de ternura, instala a amargura. Ou seja, tira-nos vida.
Por tudo isto me parece mais certo o aforismo «o silêncio é de prata e a palavra é de ouro».
- Helena Sacadura Cabral in "Bocados de Nós" -