06/02/06

Conforme já aqui disse, ontem a seguir ao almoço, dei a minha voltinha habitual. Subi a Serra da Arrábida, a certa altura parei o carro, e estive um bom bocado a disfrutar daquela paisagem que não sei descrever, apenas a sei sentir. Desci até ao Portinho, estacionei o carro, e fui então até à praia. Já não me lembrava como é bom sentir a areia nos pés. Ainda me atrevi a ir até à água, ali onde as ondas morrem, molhar os pés. Estava mesmo gelada! Voltei para trás e fui então percorrer o areal.
Por vezes é bom termos a noção deste mundo que nos rodeia e ao qual nem sempre damos a devida atenção e muito menos o seu valor. Tudo é perfeito ali à minha volta! Mas a vida não nos dá tempo para repararmos nesta beleza. Ou seremos nós que não nos importamos?
Cada dia é um mistério que nos envolve a cada hora que passa. Deixamo-nos envolver pela rotina, pela repetição mecânica das nossas acções, pelas interrogações do dia-a-dia, pelas certezas ou incertezas que recusamos esquecer, e não reparamos nas maravilhas que nos rodeiam. Mas ontem, na verdade, consegui olhar para aquela beleza e até disfrutar dela, sem pensar em mais nada. Foi dificil, mas consegui!
Regressei a casa, e aí sim, a roda do destino voltou a girar, e lá estava eu no meu mundo, aquele que me rouba toda a atenção do outro, que está para além daquela porta.
Atirei-me para o cadeirão e fiquei a olhar para além da janela, sem acender as luzes, nem sequer a televisão. Silêncio absoluto. Não apetecia mais nada. Era como se naquele momento só precisa-se de mim mesma! Só eu e mais eu!
Faz-me falta acreditar. Em qualquer coisa que irá existir.
Já não tenho medo de perder. Não que me tenha habituado a perder, simplesmente já não lamento. Olhando para trás, reparo que os meus maiores sonhos, se perderam! Talvez por isso, já não temo, sinto-me cheia de coragem para o que virá! Já tatuei em mim a aceitação da maior perda. Chamo-te a "maior perda", mas perdi o que nunca, na verdade, tive! Agora que perdi todos os medos, sinto a tua falta! Fecho os olhos, e fico na esperança de ouvir os teus passos. Nada acontece, apenas o silêncio de que me rodeei.
Caminho pelos teus vestígios, pelas lembranças, pelo que não foi!
Há sempre uma porta que deixo aberta, por onde entram todas as existências que de nós ficaram e onde ainda permanecem todas as dúvidas. Fecho a porta do quarto, que estava ainda aberta, como se temesse que todas as lembranças se percam. Não posso perder o que me resta de ti, mesmo sabendo que com o fechar da porta também por lá permaneçam as dúvidas. Como se aquela porta fosse uma defesa das minhas recordações. Mas é apenas um escudo, uma mascara das minhas fragilidades. Afinal não perdi o medo de perder!
Com o passar dos anos nós crescemos, vamos aprendendo e amadurecendo, e mesmo com toda esta aprendizagem, quando sofremos inventamos portas. Trancamo-nos para além dessas portas, como se fossem a nossa defesa! Como se elas não se pudessem abrir, de um momento para o outro, quando afinal nós temos todas as chaves, apenas fingimos, por vezes, nas as encontrar.
Porque tememos a realidade para além dessas portas.
Mesmo quando essa realidade, está já trancada ali, naquele quarto e nos faz companhia.
Nestas palavras que nada dizem, a quem as lê, eu depus toda a emoção de uns instantes que foram só meus, e retornei ao tempo presente, afinal o grande detentor de todos os momentos.
E volto então ao silêncio da minha realidade.
Este pelo qual optei hoje...e quase sempre!!!

Boa noite.