VERGONHA...
O caminho, o espaço dentro das palavras onde não cabe a poesia.
A luta constante da procura de alguma coisa que se perdeu, que se perde todos os dias - aquele pedaço de nós que queriamos conservar para ter a ilusão de sermos completos. Cada momento é um momento de morte. Cada dia é mais um dia alienado e disperso.
Falamos de flores, para dizer que se tivessemos coragem seríamos vagabundos. Sorrimos a todos para esboçar o amor que circula total dentro dos olhos.
Participamos no concerto comum, para iludir com vida, a sede de autenticidade que grita, continuamente, nas nossas mãos.
E, de súbito, a solidão é um corpo imenso e intransponivel, um doloroso mastigar de palavras duras, onde se ergue obstinadamente o disfarce.
Recuamos, com vergonha de existir, dobrados pela convenção do domínio da cobardia, da resistência para sempre inútil.
Vergonha de colaborar, sem resistir, na destruição impiedosa dos momentos por dentro das lágrimas. Vergonha de matar, dia a dia, o que de bom, de profundamente bom, existe escondido em cada um de nós.
Tudo isso, que nos daria a ilusão de sermos completos...