12/05/04

"Se te pareço nocturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse
Escapar da sua casa que é o rio
E deslizando apenas, sem tocar a margem.
Olhei-te. E há tanto tempo
Entendo que sou terra.
Há tanto tempo espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu.

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

(Jornal de Poesia-Hilda Hilst)