15/11/07

LIÇÃO Nº 3: "OS QUE NÃO MORREM ENCONTRAM-SE"



... Diz Matilde a Luís Bernardo, no meio de um fugaz encontro que se transforma, página a página, no sal que tempera o belíssimo Equador, de Miguel Sousa Tavares, que finalmente leio, confirmando o que amigos insuspeitos me disseram: começa a ler-se e não apetece parar. É verdade. Mas foi nesta frase que fiquei a pensar a páginas tantas: «Os que não morrem encontram-se». Neste domingo em que a Lua tarda em aparecer no horizonte do telheiro do que resta do meu Alentejo, deixo-me ir atrás desta ideia de destino sem fatalidade que, volta não volta, regressa à minha vida. As coisas não são o que têm de ser, são o que delas quisermos fazer. Enquanto estamos vivos só nos resta acreditar que nos encontramos, que podemos transformar as nossas vidas, e que tudo depende só de nós e da nossa vontade. Descansamos vezes demais no conformismo de um fatalismo preguiçoso, e hoje apetece-me fechar a noite a pensar, a acreditar, que os que não morrem se encontram - isto é, que tudo está em aberto enquanto estamos vivos. Quem fecha portas e abre janelas, na minha vida, sou eu. Pode não ser verdade, pode não ser sempre verdade, mas hoje quero acreditar que é só esta a verdade que interessa.

- Pedro Rolo Duarte in "Fumo" -