O QUE FAZER
O que fazer quando o corpo trene de desejo,
os braços esquecidos de serem braços,
as pernas esquecidas de caminhar,
o tronco, todo ele tomado pela respiração apressada,
pelas palavras ditas ao mesmo tempo
em que se deita,
deixar-se estar abandonado,
pura lassidão?
O que fazer quando o corpo é só entrega e alma,
tanta, que choramos ou sorrimos
nesta oferta rara de tudo que temos,
cada centímetro de pele nua,
a voz desatinadamente rouca,
a sensibilidade no extremo de cada pedido?
O que fazer senão despojar-nos
aos lábios, à boca que nos consome,
como se não existisse passado ou futuro:
toma o que é teu
toma.
A ternura fabricando pensamentos, gestos.
O corpo oceânico, ondas que vão dar
na praia das tuas mãos,
em múrmurios mergulhados.
(eugênia fortes)