16/06/05

VICIOS
Tenho o vicío de guardar artigos que acho interessantes.
Páginas de jornais, de revistas, emails, enfim as mais variadissimas coisas.
Volta e meia, faço uma limpeza! Ontem, como estava sózinha, foi dia!
Peguei numa «pilha» de papelada, já amarelicida pelo tempo - afinal o passar dos anos não deixa marcas só em nós, até no papel se nota - sentei-me no chão da minha sala, coloquei uma musiquinha, um cinzeiro e os cigarros ali à mão, e comecei a minha tarefa.
Deparei com artigos já com alguns anos. Como o tempo passa. Dei comigo a ler coisas e a pensar: parece que foi ontem que isto aconteceu!
Entre muitos, encontrei um a que dediquei mais atenção, e achei que me caiu nas mãos mesmo na hora certa. Ora reparem nisto!!
Por todo o País já se vê propaganda eleitoral às Câmaras Municipais. Como tal vou aqui deixar parte de um artigo, que foi publicado, no "Espaço Público" - salvo erro do Jornal O Público - em 14 de Novembro de 1999 e que foi escrito por António Barreto, acerca de Manuel Maria Carrilho, ministro da Cultura na altura.
Diz assim:
Um Homem Sem Qualidades
Manuel Carrilho, pseudónimo, no Portugal dos anos 90, de ministro da Cultura, é um dos homens mais felizes do país. Viu-se livre de um homem sério, geralmente respeitado, independente, bom profissional e competente: tudo qualidades que o ministro detesta nos outros, mas sobretudo abomina em si próprio. Obteve, após meses de velhacarias, a demissão de Artur Santos Silva. Vai fazer, a partir de agora, o que melhor sabe: comprar. Comprar fiéis, idólatras e servos. Tarefeiros e consciências. Criaturas que o sigam e amem. Gente que, para si, escreva, declame e dance. Câmaras e freguesias. Funcionários e dependentes. Vai comprar o que pode, a fim de tentar fazer, pelo menos, tão mau quanto Lisboa-94. Com um objectivo permanente, uma coerência: aparecer, ser fotografado, inaugurar, dar entrevistas, discursar. Ser visto com "top models" e intelectuais dos "boulevards". É esse o seu programa. Sem densidade política, mas grosso de pensamento, sem modos nem educação, mas atento ao vestuário, este ministro da Cultura sofre de vaidade para além do que clinicamente se conhece.
Carrilho, traiu e desautorizou Guterres. Sonso, venceu o primeiro ministro. Nunca quis Santos Silva na capital da cultura. Nunca quis nada que viesse dele e dos seus colaboradores. Não que tivesse concepções diferentes, coisa de que parece carecer. Mas não suportava a ideia de que a cidade do Porto não se organizasse exclusivamente para sua glória, sua, dele, ministro rasca de governo débil. Por boas ou más razões, Guterres tinha escolhido Santos Silva. À volta deste, tinha-se criado entusiasmo e simpatia. Desde o primeiro dia, o "dandy" da Kultura, com o seu sotaque parisiense suburbano, tinha-se esmerado a fazer a vida negra ao banqueiro que, horror dos horrores, nada pretendia do governo. Fez quanto pôde para atrasar o início dos trabalhos e emperrar a organização. Sabotou, nomeou criaturas suas, tentou controlar, obrigou a cerimónias para se fazer fotografar bem vestido no quartier, desviou dinheiros para o seu orçamento, mandou bobos esganiçados prestar declarações, faltou a compromissos, não cumpriu a palavra dada e não respeitou contratos que assinou. Fez o possível por contrariar a ideia de que uma capital da cultura poderia ser coisa diferente de uma série de manifestações para titilação da burguesia endinheirada. Em menos de um ano, vingou-se do primeiro ministro: liquidou-lhe as escolhas, derrotou a sua orientação. E o primeiro ministro, cada vez mais desinteressado, já sem vocação para obras ou problemas e com uma crescente insensibilidade ao conceito mesmo de serviço público, deixou-se ir na ratoeira que lhe preparou este pavão de província.
......
Nota:
Este artigo não termina aqui. É longo. Bem mais longo. Mas fica a ideia de quem é este senhor que se candidata a presidente da Câmara Municipal de Lisboa.
Pelos vistos António Barreto conhece bem a "figura"...
Olá boa tarde!!!