26/03/07

Os meus recortes....

E quanto é que ficou o Benfica?
A jacobina França decapitou o seu rei. No auge da revolução uma horda de camponeses saqueou as jóias da coroa. O estado revolucionário e os regimes que lhe seguiram trataram, nos anos seguintes, de recuperar o tesouro dos Borbons. Hoje, a maior parte das peças está em exibição no Louvre.
A revolucionária Rússia fuzilou o seu czar. Uma década depois, com o poder estabilizado, os vermelhos no poder enviavam agentes um pouco por todo o mundo para recuperar o tesouro real de S. Petersburgo. Até a maioria dos faustosos ovos Fabergé foram readquiridos, em segredo, pelo estado soviético. Hoje, a maior parte das peças está em exibição no Kremlin. O fundamentalista Irão recambiou o seu Xá para o exílio. Pelo caminho, no novo país dos ayatolas, invadiram-se embaixadas, queimaram-se livros e decretaram-se penas de morte. Mas as jóias da coroa, símbolo de 2500 anos de poder persa, estão em exibição no Museu Nacional de Teerão. Na republicana Irlanda as jóias da coroa foram roubadas do imponente Castelo de Dublin em 1907. As comissões de inquérito nunca conseguiram formular uma acusação. O público indignou-se e o principal suspeito acabou por levar dois patrióticos tiros numa vendetta orgulhosamente reivindicada pelo IRA.
O conservador Reino Unido mantém as jóias da coroa trancadas na torre de Londres. Sobreviveram a quase tudo durante vários séculos. A maior parte nem sequer é exibida ao público.
Em Portugal as jóias da coroa foram roubadas na Holanda em 2002. Andavam a passear em museus de segunda linha. Não houve escândalos, indignação, processos, nem sequer comissões de inquérito. Aconteceu e pronto. As jóias desapareceram e as promessas de apuramento de responsabilidades também. Os responsáveis pela guarda das jóias continuam a trabalhar, presume-se que nos mesmos cargos. Quatro anos depois, o Estado português prepara-se para receber o prémio do seguro. Diz-se que o dinheiro nem sequer vai ser reinvestido no património nacional. Vai directamente para o Ministério das Finanças para tapar o buraco da CP, do Metro ou coisa que o valha. Não é muito grave.

- Rodrigo Moita de Deus / Revista Atlântico -