04/09/06

Ontem...
A paisagem convida ao silêncio. Apenas olhar, para aquela imensidão de mar tranquilo que se estende a perder de vista. Até onde o olhar alcança há mar. Hoje, está de um verde escuro.
Vou subindo a rua, enquanto o portão se abre vagarosamente, como um convite a entrar no paraíso. Debaixo do alpendre onde estaciono o carro vejo-te, mesmo ao lado da piscina, com um ar preguiçoso, de quem disfruta dos momentos bons da vida. Só com o calção de banho vens ao meu encontro, com um sorriso largo. O teu sorriso lindo.
Assim que me abeiro de ti, procuro contacto com esse corpo forte, e trocamos um beijo, enquanto o meu rosto tão perto do teu, se funde no teu hálito, e o corpo se recusa a dar por terminado aquele roçar lento - e é como se ouvisse as vozes da nossa pele em acordes perfeitos e sincronizados - os meus braços envolvem-te pela cintura, as mãos já não têm sossego. Dou-te mais um beijo, desta vez no canto da boca, exactamente...aí!!
O meu amor por ti, seria capaz de sobreviver e alimentar-se só disto, destes momentos simples e tão especiais, habituada que estou, a esta estranha vida de desencontros e ausências que temos.
Segue-se um aperitivo junto da piscina, a refrescar uma conversa banal....ou não!
E surgem momentos em que sou assaltada por uma ternura inexplicável, que me bloqueia - enquando te oiço falar ou preparas o jantar - e sou então impelida para ti - abraço-te pela cintura, dou-te beijos nas costa, ou se acaso estás sentado beijo-te o rosto, a boca, não importa onde, tenho apenas que exteriorizar a vontade de ti, essa ternura imensa que despertas, o carinho, o amor, a amizade. Porque os nossos momentos não se fazem só de sexo.
Fazem-se também de abraços mudos - meus - vontade de meiguices, momentos de olhos-nos-olhos, de mãos perdidas no cabelo, de sorrisos que trocamos, do tilintar de duas flutes de champagne num brindar «à vida»!!
E a doçura dá então lugar ao desejo, à vontade de posse do corpo - do teu - de gemidos quase silenciosos, ao turbilhão de prazeres e palavras sussurradas, como se não quisesse que elas despertem o sonho que estou a viver contigo.
E o dia seguinte é de saudades.
Saudades do rumor da tua presença, do perfume que deixas quando passas e que aspiro profundamente para levar comigo quando partir, o eminente tom suave da tua voz - qual nocturno de chopin - o sabor doce da tua boca apenas alterado pelo gole de vinho acabado de saborear, da mesa que nos separa e que me parece imensa, obrigando as minhas pernas a procura-te debaixo da mesa, enquanto me olhas através de um olhar semicerrado e de um sorriso encantador.
Saudades de ti.
Saudades das horas de desejo e prazer, sempre novo e nunca repetido. Há sempre algo de novo para descobrir em ti, no teu corpo, quando com a ponta da lingua me percorres o pescoço até chegares à orelha, e me enredas com as tuas pernas, quando me sussurras palavras "impróprias" em outras ocasiões, e os nossos corpos se encaixam como peças de lego.
E acabamos cansados, suados, e indiferentes ao que acontece lá fora e não sabemos. Tranquila descanso ao teu lado, o teu braço a envolver-me enquanto oiço o bater acelerado do teu coração. Apenas o silêncio - ali - e de fundo a música suave que deixaste a tocar na sala.

Já de regresso, desço a rua e olho pelo retrovisor, na esperança de te ver uma vez mais, percebo o portão que se fecha lentamente - qual barreira que separa as nossas vidas - pergunto-me se acreditas em mim, na nitidez e sinceridade do sentimento que despertaste e te transmito de forma quase inocente, qual criança envergonhada, que oferece um presente.
Eu acredito sim, que um dia serás tu a calar estas palavras, a esqueceres-te primeiro do meu rosto, de mim e dos momentos que partilhámos.