Se há coisa que gosto de ler no Diário de Noticias é a secção de "Opinião". Devido à velha «mania» de guardar recortes, lá vou encontrando alguns engraçados.
Deixo aqui , escrito por Pedro Lomba - e porque certamente já aconteceu a muitos de nós - o seguinte:
SMS
Nós vivemos uma época acelerada, publicitária, aforística. Uma época de coisas transitórias, da síntese e da rapidez. Não há tempo. Viro-me para o lado e encontro gente com horários planificados, como se fossem kolkhozes soviéticos. Romances de 500 páginas são um anacronismo. Tudo o que demore horas representa um custo insuportável os melhores são quem executa mais depressa. Por isso, nesta civilização obcecada com o movimento não surpreende que as mensagens de telemóvel, os famosos SMS, sejam tão populares. Esta forma de comunicação curta e abreviada adaptou-se com perfeição à vida das pessoas. Há quem desconfie dos SMS, argumentando com a trivialidade e com a ortografia da coisa. Eu gosto de enviar e receber SMS, porque penso que a maioria do que temos para dizer aos outros não justifica um telefonema. Chega uma frase, uma palavra, uma insinuação. E cada um vai à sua vida.
Mas parece-me útil deixar um aviso: os SMS transportam perigos sérios em que devíamos meditar. Por duas ou três vezes enviei mensagens a pessoas erradas. Já fui salivante com amigos machos. Já insultei quem não merecia. E um ou outro amigo quase implodiu a vida dele por ter falhado o número do destinatário. Não se trata de desumanização própria deste meio de escrita ( a nossa desumanidade não tem cura). É a hipótese do erro irreparável, da grosseria sem retorno, da imagem destruída. O telemóvel pôs-nos mais perto uns dos outros mas os SMS, como aliás os e-mails, são uma ameaça ao nosso direito ao erro, à nossa repulsa pelo rigor e pela infalibilidade. As velhas cartas que escrevíamos não eram uma ameaça. Podiam ser destruídas enquanto não chegavam ao destino. O carteiro podia falhar. O remetente podia enganar-se. Os destinatários podiam ausentar-se de casa. Equívocos, desencontros, tudo isso era frequente. Conheço casamentos que se salvaram por cartas transviadas, porque, simplesmente, ela não chegou a ler. Os SMS são instantâneos e provocam estragos instantâneos.
Cuidado.Deixo aqui , escrito por Pedro Lomba - e porque certamente já aconteceu a muitos de nós - o seguinte:
SMS
Nós vivemos uma época acelerada, publicitária, aforística. Uma época de coisas transitórias, da síntese e da rapidez. Não há tempo. Viro-me para o lado e encontro gente com horários planificados, como se fossem kolkhozes soviéticos. Romances de 500 páginas são um anacronismo. Tudo o que demore horas representa um custo insuportável os melhores são quem executa mais depressa. Por isso, nesta civilização obcecada com o movimento não surpreende que as mensagens de telemóvel, os famosos SMS, sejam tão populares. Esta forma de comunicação curta e abreviada adaptou-se com perfeição à vida das pessoas. Há quem desconfie dos SMS, argumentando com a trivialidade e com a ortografia da coisa. Eu gosto de enviar e receber SMS, porque penso que a maioria do que temos para dizer aos outros não justifica um telefonema. Chega uma frase, uma palavra, uma insinuação. E cada um vai à sua vida.
Mas parece-me útil deixar um aviso: os SMS transportam perigos sérios em que devíamos meditar. Por duas ou três vezes enviei mensagens a pessoas erradas. Já fui salivante com amigos machos. Já insultei quem não merecia. E um ou outro amigo quase implodiu a vida dele por ter falhado o número do destinatário. Não se trata de desumanização própria deste meio de escrita ( a nossa desumanidade não tem cura). É a hipótese do erro irreparável, da grosseria sem retorno, da imagem destruída. O telemóvel pôs-nos mais perto uns dos outros mas os SMS, como aliás os e-mails, são uma ameaça ao nosso direito ao erro, à nossa repulsa pelo rigor e pela infalibilidade. As velhas cartas que escrevíamos não eram uma ameaça. Podiam ser destruídas enquanto não chegavam ao destino. O carteiro podia falhar. O remetente podia enganar-se. Os destinatários podiam ausentar-se de casa. Equívocos, desencontros, tudo isso era frequente. Conheço casamentos que se salvaram por cartas transviadas, porque, simplesmente, ela não chegou a ler. Os SMS são instantâneos e provocam estragos instantâneos.
- Pedro Lomba in Diario de Noticias -