25/03/04

DAR...
Dar não é fazer amor. Dar é dar. Fazer amor é lindo, é sublime, é encantador, esplêndido, mas dar é muito bom.
Dar é aquela coisa em que alguém te puxa os cabelos da nuca, chama-te nomes que eu não escreveria aqui, não te vira com delicadeza, não sente vergonha de ritmos animais.
Dar é bom.
Melhor do que dar, só mesmo dar por dar.
Dar sem querer casar, sem querer dar o primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque aquela pessoa te arrepia a coluna vertebral, te amolece, molha-te o instinto.
Dar relaxa.
Dar porque se não deres a ele hoje, vais dar amanhã, ou depois de amanhã.
Dar sem esperar ouvir promessas, sem esperar pelos carinhos, sem estar à espera de ouvir falar no futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês, ou para sempre.
Mas dar é dar demais e ficar vazia.
Dar é não ganhar.
É não ouvir um "amo-te" baixinho perdido no meio do escuro.
É não ter uma mão no ombro quando o caos da cidade parece querer arrastar-nos.
É não ter alguém para querer casar, para dar o primeiro abraço de Ano Novo e para nos dizer "o que achas amor?"
Dar é inevitável. Dê mesmo, dê sempre, dê muito.
Mas dê mais ainda, muito mais do que qualquer coisa, uma chance ao amor, porque esse sim é a maior tesão do mundo.

(Luis Fernando Veríssimo)