10/10/05

O Mítico Polana

Já albergou nomes sonantes como Nelson Mandela, Koffi Anan, Bill Clinton, Tony Blair, Lula da Silva, Joaquim Chissano, a rainha Isabel de Inglaterra, a princesa de Espanha Cristina de Bourbon, o príncipe da Holanda, o príncipe Aga Khan, Jimmy Carter, Jane Fonda, Jamie Fox e até os portugueses Jorge Sampaio, Durão Barroso, Carlos do Carmo e Eusébio, entre muitos outros. Aos 83 anos de existência, o Hotel Polana continua a ser uma espécie de ícone ou emblema da capital de Moçambique, o local de encontro obrigatório no afternoon tea de turistas e de uma certa aristocracia local.
Alguns habitantes do Maputo afirmam que, com a última remodelação, em 1992, o Polana perdeu parte da aura que o envolvia. Talvez tenham razão. Mesmo assim, continua belo e imponente. E continua a ser um dos sítios mais luxuosos e repousantes do Maputo. Pela pacatez, tranquilidade e bem-estar que proporciona.
Envolto em frondosas palmeiras, o Polana é um edifício ecléctico que conjuga a traça colonial e o charme africano. Está majestosamente virado para o oceano Índico e numa das mais prestigiadas avenidas da cidade do Maputo, nas imediações do luxuoso Bairro de Sommerschield.
O Polana é um dos projectos hoteleiros mais ambiciosos de todos os tempos em território africano. Foi inaugurado em 1 de Julho de 1922 e poucos hotéis no mundo o igualavam. Tinha elevador, piscina, jardins, um campo de golfe e vida própria para a sua laboração: máquinas geradoras de electricidade e aquecimento, frigorífico, lavandaria eléctrica, telefones e água quente em todos os quartos. Tinha até um serviço próprio e permanente de correios e telégrafos.
A ideia de construir um grande e luxuoso hotel na então Lourenço Marques nasceu em 1917. Como todas as obras audazes, o projecto do Polana teve defensores e detractores e foi desde o início acompanhado de grande celeuma. Na imprensa da época, a discussão à volta do Polana transformou-se num momento de exaltação do patriotismo nacional, não faltando críticas inflamadas a um alegado menosprezo pela arquitectura latina. Para alguns opositores, Lourenço Marques não atraía turismo capaz de sustentar um projecto de tão grande envergadura.
"Quem pode esperar que em Lourenço Marques se encontre um hotel de embaixadores? Quem pode exigir que numa cidade bonita, mas modesta, se encontrem grandes palácios?(...) Tudo tem o seu tempo, e a arquitectura nacional é compatível com uma certa modéstia que fica sempre bem, e com um arranjo interno modelar e económico.(...) Não, não sejamos magalómanos.", lia-se no jornal Lourenço Marques Guardian, na edição de 1 de Novembro de 1918.
Alheio à controvérsia que dominava na província, o Governo da metrópole garantiu o juro do capital investido e com isso conseguiu atrair diversos investidores estrangeiros interessados em concretizar a ambiciosa obra projectada pelo arquitecto escocês Walter Reid. E quem venceu o concurso para a sua construção nunca se arrependeu da aventura.
Nos períodos que antecederam a II Grande Guerra, o Polana conheceu grande prosperidade, projectando-se nos mapas turísticos internacionais como um dos mais importantes de toda a África. Durante o conflito, o hotel já gozava de grande reputação internacional e, como Portugal havia proclamado a sua neutralidade, os agentes secretos, tanto dos Aliados, como da Alemanha e da Itália, fizeram da elegante unidade um centro de espionagem e de intriga internacional.
EM 1975, com a independência de Moçambique, o hotel Polana passou para as mãos do Estado, onde permaneceu até 2002. Entre 1981 e 1986 foi dirigido por um grupo de hotéis português, o Hotel Estoril Sol, e em 1990, já próximo do fim da guerra civil moçambicana, a concessão foi dada à companhia sul-africana Karos Hotels. Em 2002, o hotel foi vendido ao grupo Akfed, Serena Hotels, do gigante Aga Khan.

- Jornal Público «viagens» 04/Jun/2005 -

Deixei Moçambique em 1976, e depois de cá estar cedo percebi que não devia entrar em conversas sobre a nossa passagem e vida naquelas terras. Simplesmente não acreditam em nós. Como tal evito esse tipo de discussões. Quem nunca lá esteve - e eu compreendo que assim seja - nunca conseguirá entender quem lá viveu, nasceu e fez daquele País a sua terra. Não foi bem como se contava e o que se ouvia por cá, embora essa seja a «verdade» que por cá passava e a que permanece até hoje. Os portugueses estiveram lá só e apenas a explorar e maltratar os negros! Nunca lhes ensinaram nada!
Não vou esconder o quanto me dói ouvir estas palavras.
Quando lá estavamos exploramos os negros, e viemos para cá tirar o que não era nosso, era de quem cá estava. Não é fácil... Só mesmo quem passou por tudo isto!
Mas isso agora também não interessa nada. Aquele País - que também é meu ou pensava que era porque também nasci lá - já foi entregue aos seus verdadeiros donos.
Gostaria apenas que tentassem entender um pouquinho a nossa mágoa, amargura, a não aceitação do que nos fizeram e como fizeram, e acima de tudo, a nossa grande saudade! Quando me dizem "então porque não voltas para lá?", isso não é bem assim, não é tão fácil como falar.
Trinta anos depois continuo a sentir-me uma estrangeira em Portugal e no fim de contas também o sou em Moçambique, porque sou portuguesa e quando nasci era a bandeira de Portugal que flutuava nos mastros de Moçambique!!!
Ainda sobre o Hotel Polana consultem esta página para poderem ver o quanto é bonito e imponente. Já lá estive hospedada e posso garantir que é lindissimo:
Sobre Moçambique, voltarei a falar aqui, um dia destes!!!