28/08/06

Estranha forma de se amar
Até que ponto se poderá destruir um amor, esfrangalhá-lo, redúzi-lo a nada?
Quando olhamos para o que sobrou, apenas restam farrapos, um monte de escombros do que acreditámos, um dia, ser tão grande e forte. Reduzido a pó! Sem existir uma ponta por onde pegar e tentar reconstruí-lo. Como se fosse folha de papel desfeita em água. Nada ficou! Nem as recordações do que foi bom, apetece lembrar. São lembranças turvas, que temos dúvidas se realmente existiram!
Quanto teremos que sofrer até percebermos que o que tanto significou foi simplesmente arrasado e enterrado? Uma mentira embrulhada em papel multicolor e de laço dourado, que nos cegou!
Que forma de amar é essa, que nos permite a capacidade de sofrer até à última gota, até à exaustão, até nos sentirmos vazios e nada mais termos para dar. Nem forças restam para levantar o olhar para o nada que sobrou, que apagou todas as luzes da imaginação e a capacidade de fazer algo mais.
E damos conta, ao olharmos à volta, como diz no livro - aquele de que aqui falei há dias - a vida é como um rio que passa e aquelas águas não voltarão ali, nada mais fica no mesmo lugar, passa e não tem volta!
Fica a certeza que nada será como antes. Depois da tempestade, mesmo que venha de novo o sol, nada voltará a ser harmonia. As marcas estão lá, gravadas a fogo, feitas de lágrimas e desilusões. E feridas por sarar.
E sempre a convicção de que é preciso reconstruír a vida de novo. É necessário mantermo-nos à tona dos restos, da mágoa, do lixo que flutua à nossa volta, restos de vida que um dia foram sonho e ilusão.
Sentimo-nos à deriva, perdidos no meio de arquivos e fotografias esborratadas de uma vida ainda recente.
É necessário rebuscar, lá no fundo do nosso ser, forças para não sucumbirmos e nos deixarmos afundar, com os destroços de uma qualquer forma estranha de se amar...