NO ESCURO
Desenhou-o no escuro. Deu-lhe forma, materializou-o como se o tocasse.
As mãos ondulavam, dançavam, subindo no corpo que esculpia.
As pernas. A forma das ancas.
As mãos demoraram-se nas coxas os gestos mais lentos ali, despertando o desejo dele, despertanto assim o corpo adormecido.
Sentia até o cheiro que emanava daquele corpo que decorara, guardara e sabia de cor.
A boca entreabria-se para absorver o sabor da pele, um sabor de amor e suor.
O peito que ele tanto gostava de sentir acariciado, os braços que ela gostava de beijar por dentro, enroscada no corpo dele.
E o rosto, a boca...
Os dedos tocaram aquela boca, como tocava sempre com a língua, para depois morder o lábio inferior devagarinho até a boca dele capturar a sua.
Amou-o assim, enquanto ele dormia, tocou-o assim e desejou-o enquanto ele dormia.
O corpo dele tão presente que ao acariciar-se depois, as mãos que a percorreram não eram as suas...
(...encandescente...)