23/04/04

"UM DIA"
Um dia,
Quando a ternura for a única regra da manhã,
Acordarei entre os teus braços.
A tua pele será talvez demasiado bela.

E a luz compreenderá
A impossível compreensão do amor.
Um dia, quando a chuva secar na memória,
Quando o inverno for tão distante,
Quando o frio responder devagar
Como a voz arrastada de um velho,
Estarei contigo e cantarão pássaros
No parapeito da nossa janela.
Sim, cantarão pássaros, haverá flores,
Mas nada disso será culpa minha,
Porque eu acordarei nos teus braços
E não direi nem uma palavra
Nem o principio de uma palavra,
Para não estragar,

A perfeição da felicidade!

(José Luís Peixoto)