08/09/05

No meu post anterior, publiquei um artigo que saiu num jornal de Moçambique - não sei qual - há muitos anos atrás, escrito por Maria do Carmo Abecassis, a sua homenagem a um dos pioneiros de Moçambique, que viveu sempre no Gurué, uma vila pequenina e linda, com muito verde, na provincia da Zambézia. Foi ele, como diz o artigo, que com a ajuda de dois amigos, quando chegaram a estas terras onde nada havia, fizeram uma plantação de chá, a "Chá Moçambique". Esta foi a primeira de outras que se seguiram.
Conheci estes três Senhores, dois dos quais estão sepultados no Gurué, o outro José Duarte, veio a falecer cá em Lisboa, já depois do 25 de Abril. Este era o meu terceiro avô. Era uma presença diaria em nossa casa. Todos os dias o Zé Duarte tinha o seu lugar na nossa mesa. Todos os dias!
Nestas minhas férias, passei um dia com o filho único do Senhor de que se fála no meu post anterior. O herdeiro da "Chá Moçambique". Peguei no recorde de jornal e juntos lemos, pela centesima(?) vez aquele artigo, dedicado ao seu pai. E recordamos aquela casa onde brincamos, os seus jardins onde corremos, o mato por onde nos aventuravamos e de onde regressávamos com as pernas e braços cortados pelo capim elefante. Era um capim muito alto, com folhas esguias, que tinham uma serrilha fina nas bordas, e que cortava quando passávamos por ele a correr. Sentavamo-nos nas escadas à entrada da casa, e então vinha o "Arno" o seu cão pastor alemão, lamber-nos as pernas. Diziam que fazia curar mais depressa os cortes.
Um dia tiveram que cortar um dos eucaliptos que rodeavam a casa. Os cálculos foram mal feitos e...pois é, o dito caiu mesmo em cima da casa, apanhando o seu quarto e parte do salão, o tal que tinha aquela janela imensa, com vista para o vale de um verde incomparavel!
Recordamos as montarias a cavalo, o rio de águas transparentes, onde tomavamos banho completamente vestidos e depois a roupa secava no corpo no regresso a casa. Nunca ficavamos doentes. Nada de constipações!
A certa altura diz-me ele:
- Tudo lá ficou. Até os meus pais! Quero lá voltar - um dia - para lhes deixar uma flôr. E tu continuas refilona e bonita, como naquele tempo. Lembraste que eu dizia à tua mãe que de tanto que me aborrecias, eu havia de casar contigo para depois te bater!
Lembro-me perfeitamente de ele dizer isto à minha mãe!
- E tu miudo, continuas a dar aquelas gargalhadas que se ouviam na casa toda. Só a côr do teu cabelo está um pouquinho diferente...! Foi o tempo. As saudades. A vida!
Ontem, voltei a abrir a minha «caixinha das saudades» e no meio de fotos, papeis e recortes de jornal, lá estava aquele que dizia "Novas Coisas de Sempre".
Sobre uma familia que fica na História de Moçambique. E que ajudou a fazer daquele País algo grande e ainda mais bonito.
A última vez que brinquei naquela casa foi... ontem, quando de novo li este pedaço de papel!
Ainda oiço as nossas gargalhadas a ecoar naquele vale de um verde único!!!