04/10/06

Andava eu pela internet e deparei com as crónicas de Mário Prata, um brasileiro nascido em Minas Gerais. Há uma imensidão de crónicas, algumas muito engraçadas e hoje destaquei esta que aqui deixo, por nenhum motivo especial mas, apenas, porque achei interessante e me veio recordar uma conversa que tive há relativamente pouco tempo com um amigo.

As Mulheres de Quarenta

Não tenho estatísticas em mãos e nem sei se existe alguma coisa a respeito das mulheres na faixa entre os 40 e os 50, sobre o seu estado civil. Mas se eu for pensar nas minhas amigas que estão por aí, posso afirmar que a grande maioria está separada. E com filhos. E achando que nunca mais vão conseguir outro homem. E se acham horrorosas.

Como eu sou de uma faixa um pouquinho acima, vou meter o bedelho entre as quarentonas (para começar elas odeiam a palavra quarentona, saudosas dos trinta. E temem o inevitável: cinquentona. Sexagenária elas não ousam nem pensar. Lembra aquelas tias que elas achavam carcomidas pelo tempo e pela memória).

Eu dizia que elas se acham acabadas. Porque elas não se consideram achadas? A mulher de quarenta tem várias vantagens. A primeira é que já tiveram os filhos que tinham que ter e nós não precisamos nos preocupar com a possibilidade de elas quererem mais um, justamente connosco que já não estamos a fim de trocar fraldas, ir a reuniões de pais e filhos, vigiar as drogas na adolescência. Esta parte elas já resolveram.
Outra vantagem é que elas sabem que Cinema Novo não é aquele cineminha que inauguraram outro dia no shopping. Cantam as músicas dos Beatles connosco e também não sabem muito bem quem são Oásis. Lembram-se até do Mundial de 70, no México e algumas delas chegaram a ver o Pelé jogar.

Sexualmente sabem tudo. E como. Tiveram mais homens do que a nossa filosofia possa imaginar. Aquele negócio de ter orgasmo assim ou assado elas já resolveram há mais de uma década. E já viveram o suficiente para se darem ao luxo de filosofarem sobre a vida, sem aquelas bobagens que as meninas de vinte pensam e dizem e, às vezes, até escrevem.
A mulher de 40 sabe amar como nenhuma outra.

Conseguem aprender a mexer no computador com muito mais eficiência que as mulheres de 60. E não perdem parte do dia atrás de uma alma gémea na internet, como fazem a turma de 20 e de mais de 50.
Neste momento, por exemplo, o computador acaba de me avisar que chegou uma mensagem nova. Fui ver e era mais uma daquelas perguntando se quero aumentar o tamanho do pénis. Tem até a foto de um aparelho que «infla». Você já pensou, na hora de fazer sexo, você abre o guarda-roupa, tira aquela geringonça (a máquina, não a sua) e diz: um momentinho que você vai ver o que é bom pra tosse? Não, as mulheres de 40 há muito tempo deixaram de se preocupar com o tamanho da geringonça. Com elas é menos preliminares e mais acção. A mulher de 40 vai directo ao assunto. Elas já perceberam que podem comer e não apenas dar. As mulheres de 40 comem como gente grande, comem como homem. E a gente dá, com prazer.

A mulher de 40 já apanhou aquelas bebedeiras memoráveis de quando tinha trinta. Ela sabe beber. E ainda puxa um sem ficar rindo feito uma principiante de 20 e sem a culpa da turma de 50. Dois tapinhas e vai para o cinema. Relaxadona, dona.

Ah, a mulher de 40 no verão chega ao seu esplendor debaixo do sol. Sabe a medida certa da sua cor e do seu suor. Sai da água como se saísse de um aquário, como se desfilasse em cima da água. Não acampa mais, nem fica em pousada sem internet. A mulher de 40 sabe onde quer ficar. Gosta de conforto.

Ela pinta-se pouco, ao contrário das de vinte e das de 50 e 60. No máximo um baton básico. Não se enche de perfumes e pode pintar o cabelo até de vermelho que lhe cai bem. Não fica ridícula como as de 20 e 50.

Enfim, a mulher de 40 sabe tudo e não está nem aí.
Por que então você sofre, mulher? O mundo não está perdido, está achado. Você é o melhor papo da praça. Você é o que há!!

- Mário Prata -