18/09/07

Era uma vez...

Vou começar com uma frase já muito conhecida:

"A vida não se mede pelo número de vezes que respiramos, mas pelos momentos que nos tiram a respiração..."

Já nos conhecíamos há algum tempo. Bastante tempo até. Mas não estava à espera de te conhecer naquele dia mais de perto, não fazia parte dos meus planos colocar em causa tudo o que tinha sido a minha vida até aquele momento, não estava nos meus planos olhar para a minha vida do lado de fora - como nunca a tinha visto - e de chegar a colocar questões e até dúvidas sobre o conceito da felicidade. Isso que todos procuramos e que raramente encontramos. Mas nós, com todas as loucuras que fizemos, fomos realmente felizes. Eu sei, que sim. Tu disseste-me que sim. Descobri isso no teu sorriso, quando me olhavas nos olhos e me abraçavas forte contra ti. Ficávamos em silêncio durante alguns instantes, apenas a desfrutar da sinceridade daquele gesto.
Contigo vivi momentos que nunca tinha experimentado!
Lembraste de quantas vezes assistimos juntos, ao nascer do sol de verão? Sempre em sítios diferentes. Umas vezes, depois de jantarmos em Setúbal, rumávamos para o Portinho da Arrábida, tomávamos café e ali ficávamos dentro do carro a conversar horas esquecidas, até tu me dizeres: olha, está a amanhecer, que sol lindo! Outra vez, depois de muita conversa e alguns copos no Parque das Nações, rumávamos para Setúbal e acontecia o nascer do sol enquanto atravessávamos a Ponte Vasco da Gama. O sol parecia sair de dentro do Tejo, dizias tu! Também para nós, amanheceu certa vez a olharmos o mar no Estoril, e outra vez ainda enquanto passeávamos na marginal de Setúbal, numa noite morna. Depois fomos tomar o pequeno almoço a minha casa, afinal eu tinha que mudar de roupa para ir trabalhar! Não, não foi naquela noite em que perdi as chaves do carro na Av: Luísa Tody, em que fomos a pé até minha casa, buscar o duplicado das mesmas, para poder regressar com o carro. No dia seguinte, lá estavam elas num restaurante onde nem sequer alguma vez jantámos. Mas alguém as deixou lá!
Recordo, com especial carinho, o dia em que te levei à Pousada de S. Filipe em Setúbal para tomarmos o café depois do jantar, e quando deparaste com a paisagem lá de cima, ficaste em silêncio. Parado! Depois puxaste-me para ti, abraçaste-me e disseste ao meu ouvido: Obrigado miúda, por este momento encantado que me estás a proporcionar! E da volta que fizemos pela serra da Arrábida, num final de tarde, quando saímos da praia da Figueirinha, onde afinal só estivemos pouco mais de uma hora. E quando fomos a Tróia? Como isto está diferente, disseste tu. Tinha esperança de ver, nesse dia, os golfinhos do Sado, mas tal não aconteceu.
Eram assim os nossos momentos. Serenos. Tranquilos. Verdadeiros. Sentidos. Cheios de magia e cumplicidade. E por vezes loucos. Sim, loucos, quando ias ter comigo só para estarmos juntos meia hora. Quando vim ter contigo a Lisboa já passava das três da manhã. Quando um dia te esperei, a ler no carro, até às três e meia da manhã...
E quando ias para fora de Lisboa, quantas vezes me ligavas por dia? Três, cinco, dez? Não sei. Perdia a conta... Horas e mais horas a falar. Chegaste a telefonar, algumas vezes, já passava das quatro da manhã e - meia a dormir meia acordada - ouvia-te dizer que estavas cheio de saudades e que adoravas a minha voz ao acordar! E quando regressavas, estavas à minha espera, eu ainda mal tinha saído do carro, já tu estavas a dizer: anda cá miúda, deixa-me abraçar-te que estou com tantas saudades tuas! E apertavas-me tanto, que não deixavas dúvidas da sinceridade das tuas palavras e do que dizias sentir...! Deixavas escapar baixinho: Agora está tudo bem! Já está tudo bem...!
E íamos petiscar alguma coisinha, ou levavas-me a um restaurante que conhecias (no Estoril), que dizias, serviam a melhor picanha que já tinhas comido!
E naquela noite em que fomos ao Bairro Alto, tomar uma imperial, e acabámos numa das ruas apertadas, sentados num degrau onde mal cabíamos os dois e a certa altura alguém veio oferecer-me uma rosa. Ainda a tenho no tablier do meu carro. Mais um motivo para me lembrar de ti... Depois de tudo isto, ficaram tantos lugares por correr. Tantas noites que programámos. Tantos sonhos que dizias iríamos realizar os dois.Tantos amanheceres em outros lugares que já não vamos ver...
Não me ocorreu, naquele dia em que nos "conhecemos", que um dia ficarias a fazer-me falta, em todos os dias que a esse se seguiram. Como hoje. Não percebi, que te tornarias parte de um pedaço dos meus dias, não soube ver que te entranharias em mim, com a tua voz, com a cor do teu sorriso sereno, com as tuas mãos meigas, com a falta do teu abraço apertado.
Não percebi que o primeiro beijo que me roubaste, ficaria em mim e mudaria toda e qualquer ideia que tinha a respeito e de tudo e de absolutamente nada.
Não me dei conta que todos os momentos passados contigo seriam demasiado pequenos, que o tempo corria demasiado rápido. Não queria saber do tempo que nos fugia entre a vontade imensa de estarmos juntos, de estarmos apenas ali, de sabermos que o nosso sorriso era fruto um do outro quando as nossas mãos de juntavam apertadas.
Não sabíamos que a intensidade do que vivíamos era tanta que não cabia no tempo...
Não sei se me amaste! Não sei se te amei! Sei que os sentimentos eram como uma brisa ligeira, que nos fazia estar ali, de olhar perdido no mar, no sol a nascer, nos olhos um do outro, em silêncio...
Há tanta coisa que gostava de te dizer um dia. Há tanta coisa que queríamos viver um dia. Houve tanto que dissemos um ao outro - sem palavras - no nosso abraço de despedida!
Deixei-te ir viver a tua vida. Havia dúvidas... Há assuntos para resolver...
Antes de ires disse-te: aqueles que amo, deixo-os livres; se voltarem é porque os conquistei, se não é porque nunca os tive.
Tu disseste-me ao ouvido: Miúda, aconteça o que acontecer, tu és a pessoa mais fantástica que conheci e que já passou na minha vida. Não voltarei a ver um amanhecer sem que me lembre de ti. O sol da minha vida serás sempre tu!
Não sei se voltas!
Não sei onde está o teu rosto, a tua voz que ecoa por outros lugares, que não este onde te escrevo agora. Hoje é a primeira terça feira em que regresso a casa e vou jantar sem ti, mas com a tua ausência!
Há momentos que ficarão gravados na mente. Que deixam uma canção para sempre, e palavras que me disseste e que ficam assim, muito dentro de mim.
Não sei, se alguma vez saberei o momento em que nos esqueceremos um do outro....
Boa noite Rogério! Deste-me tantos momentos que me tiraram a respiração....!!