28/09/07

Foto: Thomas Kamp


Vou passar a noite com estes dias.
Com o sorriso que deixaste nos lençóis.
Ainda ardo com os restos do teu nome
e vejo com os teus olhos as coisas que tocaste.
Estou entre o pão e a mesa, no copo que levas à boca.
Na boca que me guarda.
E não sei o que sou entre ontem e o que vier.
Ontem era o rio ao entardecer, o olhar que acaricia a luz.
O meu filho escreve nos seixos da praia e eu invento
passos para os decifrar.
Todos rolam para longe.
É assim o mar. Vou aprendendo com as ondas
a desfazer-me em espuma.
Há sempre uma gaivota que grita quando estou perto,
sempre uma asa entre o céu e o chão da casa.
Mas nada me pertence,
nem as palavras com que cimento as horas.
Talvez o amor seja uma pequena diferença entre
fusos horários ou o acordo ortográfico
que só existe no fundo da pele.
Mas aqui onde não sou
o que me funda é a certeza que existes.


- Rosa Alice Branco -