Ontem, senti uma solidão sem tamanho. Ontem, senti a tua falta. Ontem, senti saudades tuas, daquelas que fazem doer cá dentro.
Quando sai aqui do serviço, liguei para um amigo - alguém de quem gosto mesmo muito - na esperança de que estivesse disponível para tomarmos um copo, conversarmos e passarmos juntos um par de horas, quem sabe! Mas ele, que até não é muito dado a futebol, ontem - por sorte ou azar - estava a ver o seu sporting e como isso não bastasse no próprio do estádio... esse mesmo! Quando retribuiu a minha chamada, que não atendeu, às primeiras palavras que trocámos, acontece o "auto-golo" do sporting (foi auto golo não foi? Ouvi dizer que tinha sido um jogador do sporting que marcou o dito do golo...), bem, optei por terminar a conversa, não fossem pensar que eu estava a dar azar.... Mas tenho que admitir que me apeteceu voltar a ligar antes do jogo acabar... quem sabe havia outro "auto golo" desta vez do Nani?
Ontem, senti a tua falta, de facto. Aquela de que te falei quando da nossa ultima conversa. Disse que iria sentir a tua falta e das nossas longas conversas, dos nossos amanheceres, de colocar as minhas pernas por cima das tuas quando no sofá nos recostávamos a ouvir música, acompanhados por uma bebida, quando passavas a tua mão no meu rosto, quando trocávamos um sorriso em silêncio. E os nossos silêncios diziam tanto... diziam tudo.
Os meus braços abertos não te alcançam, mas sentem-te por perto, pois na verdade nunca saíste deles, ficou cá o teu lugar, estão apenas à espera...
Ontem, saí daqui e quando dei conta estava na Pousada de S. Filipe, lembrei-me do teu rosto quando me sentei a olhar para parte nenhuma, para o vazio, para o longe e senti as minhas mãos vazias. Ali fiquei de olhar perdido numa imensidão de pedaços vividos contigo, vários meses, dias, momentos cheios de cor, com o teu olhar doce, a tua voz serena a dizer "anda cá miúda", a forma do teu sorriso, e eu apenas a olhar para ti, a sorrir dos pedaços dispersos da nossa felicidade. É de tudo isso que eu sinto mais falta. Dos momentos vividos com o mundo, no meio da multidão anónima, que não existia para nós. Que nós deixávamos de ver e ouvir, tão absortos estávamos em aproveitar cada segundo que o tempo nos pudesse roubar. E que era nosso por direito. Nós fazíamos por tê-los e partilha-los um com o outro.
Não te pedia mais que isso, porque sabia se te pedisse mais, a tua resposta seria sempre um carinho, teria a forma de um beijo demorado, e um sorriso desenhado no teu rosto bonito.
Hoje, também não te peço nada. Queria só saber se és feliz de verdade! Nem quero que me guardes nesses teus momentos felizes, só quero - não estou a pedir muito não? - que nesses momentos me reconheças em qualquer parte onde eles estejam...