"Um grande amor só pode existir à sombra de um grande sonho..." Mas quantos desses sonhos ficam perdidos no tempo...
31/10/07
Foto: AmandaCom
Ontem, almoçámos as duas e um ex-colega!
Depois, a minha amiga ligou-me para ir jantar lá a casa, para conversarmos um pouquinho... ela não anda bem e eu também não! Junta-se «a fome com a vontade de comer» e vamos chorando as duas!
Sai lá de casa era uma da manhã e ficou combinado jantarmos hoje!
Já me telefonou a informar que o jantar era no "Luca".
Pois bem, bom feriado. O tempo promete.
Tchim, tchim... à vida!!!
Investigação cientifica...
Colabore!
JÁ PRA TASCA!!!
Quando uma manada de búfalos é caçada, só os búfalos mais fracos e lentos, em geral doentes, que estão atrás do rebanho são mortos.
Essa selecção natural é boa para a manada como um todo, porque aumenta a velocidade média e a saúde de toda a manada pela matança regular dos seus membros mais fracos.
De forma parecida opera o cérebro humano:
Beber álcool em excesso, como nós sabemos, mata os neurónios, mas, naturalmente, ele ataca os neurónios mais fracos e lentos em primeiro lugar. Neste caso, o consumo regular de cerveja, aguardente, whisky, vinho, rum, vodka, elimina os neurónios mais lentos, tornando o cérebro uma máquina mais rápida e eficiente.
Beber álcool em excesso, como nós sabemos, mata os neurónios, mas, naturalmente, ele ataca os neurónios mais fracos e lentos em primeiro lugar. Neste caso, o consumo regular de cerveja, aguardente, whisky, vinho, rum, vodka, elimina os neurónios mais lentos, tornando o cérebro uma máquina mais rápida e eficiente.
E mais 23% dos acidentes de trânsito são provocados pelo consumo do álcool.
Isto significa que os outros 77% dos acidentes são causados pelos sacanas que bebem água, sumos, refrigerantes ou outra m.... qualquer!!!
Colabore!
JÁ PRA TASCA!!!
PS.: Não é da minha autoria. Uma amiga enviou-me através de e-mail. Limitei-me a partilhar esta "investigação cientifica" com todos vós!!!
Foto: JCharles
A ESPIRAL
Vi-te partir numa noite escura de Setembro.
Levavas as mãos escondidas nos bolsos,
os olhos vagos e crispantes.
Vi-te partir.
Soube instantaneamente que a rota de colisão
estava permanentemente traçada
nos nossos destinos.
Escondi o rosto por trás da máscara negra
da imponente solidão, escondi
todos os poemas que te escrevi,
rasguei todas as fotografias
em que nunca constaste.
Acordei numa manhã cinza de Setembro
e tu ainda não tinhas chegado.
Virei o corpo cansado e espreitei o rosto
do menino que és tu deitado a meu lado.
Abraçou-me.
Sei que enquanto ele aqui estiver,
estarás enlouquecedoramente perto.
Quis oferecer-lhe as minhas lágrimas liláses,
deitar-me no seu colo,
ensinar-lhe os erros amargos da minha vida,
quis cantar-lhe poemas sem voz,
quis esquecer-me de mim,
quis romper o meu coração.
Eu estou aqui. Ainda te amo,
disse ele baixinho encostado ao meu rosto.
Ainda me amo...
A noite veio e trouxe-te nu e violentado.
Seguraste-me as mãos,
apalpaste os meus olhos, cego.
Quiseste saber, febril, porque ficas para trás
sempre que o teu corpo se ausenta de mim.
E eu... já não te sei devolver.
(o grito do silêncio)
A ESPIRAL
Vi-te partir numa noite escura de Setembro.
Levavas as mãos escondidas nos bolsos,
os olhos vagos e crispantes.
Vi-te partir.
Soube instantaneamente que a rota de colisão
estava permanentemente traçada
nos nossos destinos.
Escondi o rosto por trás da máscara negra
da imponente solidão, escondi
todos os poemas que te escrevi,
rasguei todas as fotografias
em que nunca constaste.
Acordei numa manhã cinza de Setembro
e tu ainda não tinhas chegado.
Virei o corpo cansado e espreitei o rosto
do menino que és tu deitado a meu lado.
Abraçou-me.
Sei que enquanto ele aqui estiver,
estarás enlouquecedoramente perto.
Quis oferecer-lhe as minhas lágrimas liláses,
deitar-me no seu colo,
ensinar-lhe os erros amargos da minha vida,
quis cantar-lhe poemas sem voz,
quis esquecer-me de mim,
quis romper o meu coração.
Eu estou aqui. Ainda te amo,
disse ele baixinho encostado ao meu rosto.
Ainda me amo...
A noite veio e trouxe-te nu e violentado.
Seguraste-me as mãos,
apalpaste os meus olhos, cego.
Quiseste saber, febril, porque ficas para trás
sempre que o teu corpo se ausenta de mim.
E eu... já não te sei devolver.
(o grito do silêncio)
30/10/07
Para o Rogério
"Sai
Abre a porta e vai.
Estende as mãos à vida
e mistura-te com os fumos,
os ruídos, as pessoas.
Cheira-os, ouve-os, toca-lhes,
mas não te envolvas.
Cria à tua volta a auréola
simples mas intensa da verdade.
Desfaz-te da indiferença
vende a apatia.
Dá com alegria,
recebe com amor.
Anseia com ansiedade,
vive cada minuto.
Para que nunca acordes ao lado
de vozes murchas e flores ressequidas!
Para que nunca tenhas de correr
em busca de tempo perdido!"
- autor desconhecido -
O teu rosto transformou-se na noite interminável
que atravessa cada tarde, cada tarde,
cada tarde interminável.
O rio de fumo que levava o teu nome
para as estrelas dentro, de dentro
de dentro da minha tristeza.
E o teu rosto era tudo o que tinha.
E o teu nome era tudo o que tinha.
Tu eras tudo. Tudo.
E tudo é agora, mais do que tudo...
- José Luis Peixoto -
que atravessa cada tarde, cada tarde,
cada tarde interminável.
O rio de fumo que levava o teu nome
para as estrelas dentro, de dentro
de dentro da minha tristeza.
E o teu rosto era tudo o que tinha.
E o teu nome era tudo o que tinha.
Tu eras tudo. Tudo.
E tudo é agora, mais do que tudo...
- José Luis Peixoto -
29/10/07
No fim de semana passei por aqui, no serviço, porque assim me foi solicitado. Afinal não foi preciso. Eram cinco da tarde estava despachada. Entretanto alguém me telefona a dizer que também estava livre. Vamos tomar um café?
Assim foi. Tomámos um café, depois um copo, a seguir jantámos, e ali estivemos até à meia noite. De conversa. De alguns momentos em silêncio onde apenas o olhar falava. De sorrisos. De desabafos. De não compreender como aceitas uma forma de vida que não queres, conforme disseste. E eu continuo a não entender o porquê de ter que ser assim! O porquê de não seres capaz de dizer "não" ou "basta"!! E porque sei que não estás bem, que afinal não és feliz com o caminho que decidiste seguir, continuo presa a uma réstia de esperança, quer queira ou não. Seria bem mais fácil para mim saber que estavas feliz e então, seguiria o meu caminho. Sem ti! Mas na verdade não sou capaz, porque tu não és feliz!
Domingo, ligaste a dizer que estavas a caminho de Lisboa, para estares comigo, nem que fosse apenas por alguns minutos. E, de novo, estivemos juntos!
Domingo, ligaste a dizer que estavas a caminho de Lisboa, para estares comigo, nem que fosse apenas por alguns minutos. E, de novo, estivemos juntos!
E hoje? E agora? E quando te irei ver de novo...?
Não sei! Não sabes! Nada sabemos!
É assim a minha vida, sempre à espera que o telefone toque e que do outro lado me digas:
- Estou a caminho... vou ter contigo, pode ser???
Súplica
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
- Miguel Torga -
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
- Miguel Torga -
Penso que já aqui disse que gosto de ler Pedro Rolo Duarte. Há já uns anos que persigo o que escreve. No sábado comprei o seu último livro "Fumo - E mais 80 lições que eu vivi". O autor faz uma "mistura" entre a sua luta contra o vício do cigarro - que venceu - e algumas lições de vida! Essa "mistura" combina perfeitamente, pois não temos só e apenas a dura luta de quem fumou durante trinta anos e por motivos muito dolorosos - daqueles que doem na alma - decidiu abandonar definitivamente o vício.
Hoje vou aqui deixar uma das suas lições, a «Nº 25: A Realidade Também Cansa». Talvez porque teve um "gosto" especial para mim...
"Está um dia de sol deslumbrante no Alentejo, não parece Inverno, e apetece continuar por estes campos. Mas é domingo e tenho de regressar a Lisboa. A meu lado, L. reproduz uma frase que viu escrita numa parede de uma casa no Brasil: "Estou farto da realidade - por favor, façam-me promessas."
Era o que eu queria ouvir neste preciso instante - não mais realidade, por favor. Um bocadinho de sonho: promete-me este mundo e o outro. Diz-me que não é domingo. Diz-me que o sol e o calor vão continuar pelo Inverno dentro. Diz-me que a água do Oceano Atlântico a 20 graus não é apenas uma excepção extraordinária deste final de 2006...
A frase faz-me luz. Começo por me lembrar do lamento generalizado dos cidadãos sobre os políticos - eles só prometem, mas nunca cumprem - e depois vou alargando o leque para as promessas dos medicamentos que curam, das rezas que resolvem, dos chás que prometem alívio, ou as promessas dos jardins que nunca chegam a nascer em volta dos prédios em construção. A publicidade promete. Os bancos prometem. Os produtos de beleza prometem. Os pais prometem aos filhos.Os amantes prometem-se.
Prometer deve ser uma das actividades favoritas do ser humano - prometer ao outro, aos outros, a si mesmo. É bom porque nunca se promete algo de mau.
Cumprir é que é pior - porque nos confronta com um ligeiro entrave ou, pelo menos, um aviso prévio: a realidade. Nem sempre a realidade nos deixa cumprir - pagar, fazer, acabar, ir lá, estar, continuar, entregar. E é no cumprimento da promessa que a realidade decide interferir - acordando-nos do conho e lembrando-nos da nossa condição estupidamente humana.
Ou não? Ou será que essa condição quie nos impede trantas vezes de prometer com receio de não cumprir é, afinal, e ao contrário, a ideal? Se estamos todos fartos da realidade, deixem-nos ao menos prometer. Prometer a fantasia. O sonho. Ou pura e simplesmente prometer o céu a quem o merece. Alguém de quem gosto muito, mesmo muito, impressionou-me, um dia, quando, referindo-se à sua própria vida, disse: "O meu maior drama foi ter por diversas vezes tocado com os dedos na Lua - mas na verdade nunca consegui agarrá-la." Eu quero prometer-lhe a Lua. Acredito que a Lua se agarra quando nos confessamos fartos da realidade e queremos promessas - ou quando, pelo contrário, agarramos a realidade e a obrigamos a levar-nos tão longe que talvez lá cheguemos.
Entre uma condição e outra encontramos o caminho que nos leva ao privilégio de um momento de felicidade - aquele que tudo explica e tudo perdoa. Aquele que nos garante, na entrada de um novo ano, que para lá da realidade e das promessas há um pequeno "detalhe" que muda tudo: nós próprios. Eu. A leitora. O olhar do meu filho. O beijo de amor "que não roubei" (canta Simone no I-Pod). Esse mundo e o outro, Como costumamos dizer daqueles que prometem, sabendo que não vão cumprir. Ou seja, a nossa capacidade de sonhar.
O dia de sol de Inverno no Alentejo morre devagar. Prometo voltar, não sei se volto. Quero voltar. Confesso: também estou farto de realidade - quero promessas. Quero prometer-me."
- Pedro Rolo Duarte in "FUMO e mais 80 lições que eu vivi" -
28/10/07
27/10/07
O Que Se Quer
- Miguel Esteves Cardoso -
«Querer alguém, ou alguma coisa, é muito fácil. Mesmo assim, olhar e sentirmo-nos querer, sem pensar no que estamos a fazer, é uma coisa mais bonita do que se diz. Antes de vermos a pessoa, ou a coisa, não sabíamos que estávamos tão insatisfeitos. Porque não estávamos. Mas, de repente, vemo-la e assalta-nos a falta enorme que ela nos faz. Para não falar naquela que nos fez e para sempre há-de fazer. Como foi possível viver sem ela? Foi uma obscenidade. Querer é descobrir faltas secretas, ou inventá-las na magia do momento. Não há surpresa maior. O que é bonito no querer é sentirmo-nos subitamente incompletos sem a coisa que queremos. Quanto mais bela ela nos parece, mais feios nos sentimos. Parte da força da nossa vontade vem da força com que se sente que ela nunca poderia querer-nos como nós a queremos.
Querer é sempre a humilhação sublime de quem quer. Por que razão não nos sentimos inteiros quando queremos? É porque a outra pessoa, sem querer, levou a parte melhor que havia em nós, aquela que nos faz mais falta. É a parte de nós que olha por nós e nos reconcilia connosco. Quanto mais queremos outra pessoa, menos nos queremos a nós...
Querer é mais forte que desejar, pelo menos na nossa língua. Querer é querer ter, é ter de ter. Querer tem mesmo de ser. Na frase felicíssima que os Portugueses usam, "o que tem de ser tem muita força". Desejar tem menos. É condicional. Quem deseja, desejaria. Quem deseja, gostaria. Seria bom poder ter o que se deseja, mas o que se deseja não dá vontade de reter, se calhar porque são muitas as coisas que se desejam e não se pode ter todas ao mesmo tempo. Querer é querer ter e guardar, é uma vontade de propriedade; enquanto desejar é querer conhecer e gozar, é uma vontade de posse.
O querer diminui-nos, mas o desejar não. Sabemos que somos completos quando desejamos - desejamos alguém de igual para igual.
Quando queremos é diferente - queremos alguém com a inferioridade de quem se sente incapacitado diante de quem parece omnipotente. O desejo é democrático, mas o querer é fascista. O que desejamos, dava-nos jeito; o que queremos fez-nos mesmo falta. Mas tanto desejar como querer são muito fáceis. Ter, isto é, conseguir mesmo o que se quer é mais difícil. E reter o que se tem, guardando-o e continuando a querê-lo, tanto como se quis antes de se ter, é quase impossível. Há qualquer coisa que se passa entre o momento em que se quer e o momento em que se tem. O que é? "Cada pessoa, - dizia Óscar Wilde, - acaba por matar a coisa que ama". Mata-a, se calhar, quando sente que a tem completamente. A verdade, triste, é que uma pessoa completa, a quem não falta nada, não é capaz de querer outra pessoa como deve ser. No momento em que se sente que tem o que quer, foi-lhe devolvida a parte que lhe fazia falta e passou a ter tudo em casa outra vez. Fica peneirenta, sente-se gente outra vez. É feliz, está satisfeita e deixou de ser inferior à sua maior necessidade.
O ter destrói aquilo que o querer tinha de bonito. Uma necessidade ocupa mais o coração, durante mais tempo, que uma satisfação.
Querer concentra a alma no que se quer, mas ter distrai-a. Nomeadamente, para outras coisas e outras pessoas que não se têm. É bom que se continue a julgar que aquilo de que se precisa é exterior a nós. Só quem está voltado sobre si, piscando o olhos ao umbigo, pode achar que tem tudo o que precisa. Quando se quer realmente, dar-se-ia tudo por ter. A coisa ou a pessoa que se quer têm o valor imediato igual a todas as coisas e pessoas que já se têm. Trocavam-se todas as namoradas, ou todos os namorados, que já se namoraram, pelo namoro de uma única pessoa que se quer namorar. É esta a violência. É esta a injustiça. Mas é esta também a beleza.
Quem aceitaria que um novo amor significasse apenas parte de uma vida? Não sendo a vida inteira, não sendo tudo o que importa, numa dada altura num dado estado do coração, porque nos havíamos de ralar? O querer é bonito porque, concentrando-se na coisa ou na pessoa que se quer, elimina o resto do mundo.
O resto do mundo é uma entidade muito grande que tem graça e tem valor eliminar. Querer um homem em vez de todos os outros homens, uma mulher em vez de todas as outras mulheres é fazer a escolha mais impossível e bela. Acho que se pode ter tudo o que se quer de muitas pessoas ao mesmo tempo, mas que não se pode querer senão uma pessoa. Ter todas as pessoas não chega para nos satisfazer, mas basta querer só uma, e não ter, para nos insatisfazer. É por isso que se tem de dar valor à vontade. Poder-se-á querer ter alguém, sem querer também ser querido por essa pessoa? Eu não sei. Como raramente temos o que queremos ter ou queremos bem ao que temos, é boa ideia dar uma ideia da atitude que se pretende. Em primeiro lugar, convém mentalizarmo-nos que querer é desejável só por si, pelo que querer significa. Quem tem tudo e não quer nada é como quem é amado por todos sem ser capaz de amar ninguém. Dizer e sentir "eu quero" é reconhecer, da maneira mais forte que pode haver, a existência de outra pessoa e de nós. Eu quero, logo existes. Eu quero-te, logo existo. Em segundo lugar, ter também não é tão bom como se diz. Ter alguém ocupa um espaço vital que às vezes é mais bonito deixar vazio. Ter o que se quis não é tão bom como e diz, nem querer o que não se tem é assim tão mau. O segredo deve estar em conseguir continuar a querer, não deixando de ter. Ou, por outras palavras, o melhor é continuar a ser querido sem por isso deixar de ser tido. O que é que todos nós queremos, no fundo dos fundos? Queremos querer. Queremos ter. Queremos ser queridos. Queremos ser tidos. É o que nos vale: afinal queremos exactamente o que os outros querem. O problema é esse.»
- Miguel Esteves Cardoso -
26/10/07
Foto: Jean Paul Nacivet
Acordar
Um dia, quando começa, parece igual aos outros.
A mesma luz que entra pela janela,
ruídos de obras e automóveis, vozes...
Mas o que nesse dia me falta é outra coisa:
a tua voz, a surpresa de cada instante que me dás,
uma luz diferente que não vem de fora,
da mesma rua e do mesmo céu,
mas de dentro de ti.
Assim, o que faz a mudança do mundo
e das coisas não é o mundo nem as coisas:
somos nós, e a relação que nos prende
um ao outro - isso que, não sendo nada para fora
de nós, é tudo o que temos nesta vida.
- Nuno Júdice in "Pedro lembrando Inês" -
Acordar
Um dia, quando começa, parece igual aos outros.
A mesma luz que entra pela janela,
ruídos de obras e automóveis, vozes...
Mas o que nesse dia me falta é outra coisa:
a tua voz, a surpresa de cada instante que me dás,
uma luz diferente que não vem de fora,
da mesma rua e do mesmo céu,
mas de dentro de ti.
Assim, o que faz a mudança do mundo
e das coisas não é o mundo nem as coisas:
somos nós, e a relação que nos prende
um ao outro - isso que, não sendo nada para fora
de nós, é tudo o que temos nesta vida.
- Nuno Júdice in "Pedro lembrando Inês" -
25/10/07
Sonhei-te lentamente,
em plena consciência do disfarce.
Sabia-te irreal,
mas o sonho restava devagar.
Com pormenores tão lentos
que o tempo me sobrava de pensar.
Sentei-me ao pé de ti,
junto ao meu sonho, e pude ler indícios,
os símbolos que queria
estavam lá.
Sonhei-te porque sim:
a confusão existe no real.
- Ana Luísa Amaral -
em plena consciência do disfarce.
Sabia-te irreal,
mas o sonho restava devagar.
Com pormenores tão lentos
que o tempo me sobrava de pensar.
Sentei-me ao pé de ti,
junto ao meu sonho, e pude ler indícios,
os símbolos que queria
estavam lá.
Sonhei-te porque sim:
a confusão existe no real.
- Ana Luísa Amaral -
24/10/07
Vi os olhos da lua numa noite sem lua;
e os dedos do sol num dia sem sol.
Vi o seu desenho inscrito nas nuvens do crepúsculo:
o rosto cego da lua, os braços apagados do sol.
Levei os dedos do sol aos olhos da lua,
e abri-os: num movimento de pálpebras,
o dia fez-se noite.
E adivinhei a cor dos teus olhos de lua
com os meus dedos de sol.
Esperei por ti na confluência das nuvens do poente.
Vi-as descerem até ao mar com seus ventres
carregados de água: e vi o dorso do mar subir até elas
numa rebentação de maré cheia.
Ouvi o mar e o céu juntarem-se num gemido de amor;
e tapei os ouvidos ao grito do orgasmo celeste,
com o sangue da tarde.
Enganei-me nos caminhos que me levavam ao céu;
troquei as voltas que me traziam ao mar.
Sentei-me contigo na terra da noite,
sem lua nem sol; e o teu rosto de pálpebras
fechadas trouxe-me o sol, para que te abrisse
os olhos com os meus dedos de fogo.
Entrei no seu doce subterrâneo, longe da lua e do sol.
A tarde demorou-me nos teus braços,
até essa noite que encheu de sol os meus dedos,
e de luar os teus olhos.
- Nuno Júdice -
e os dedos do sol num dia sem sol.
Vi o seu desenho inscrito nas nuvens do crepúsculo:
o rosto cego da lua, os braços apagados do sol.
Levei os dedos do sol aos olhos da lua,
e abri-os: num movimento de pálpebras,
o dia fez-se noite.
E adivinhei a cor dos teus olhos de lua
com os meus dedos de sol.
Esperei por ti na confluência das nuvens do poente.
Vi-as descerem até ao mar com seus ventres
carregados de água: e vi o dorso do mar subir até elas
numa rebentação de maré cheia.
Ouvi o mar e o céu juntarem-se num gemido de amor;
e tapei os ouvidos ao grito do orgasmo celeste,
com o sangue da tarde.
Enganei-me nos caminhos que me levavam ao céu;
troquei as voltas que me traziam ao mar.
Sentei-me contigo na terra da noite,
sem lua nem sol; e o teu rosto de pálpebras
fechadas trouxe-me o sol, para que te abrisse
os olhos com os meus dedos de fogo.
Entrei no seu doce subterrâneo, longe da lua e do sol.
A tarde demorou-me nos teus braços,
até essa noite que encheu de sol os meus dedos,
e de luar os teus olhos.
- Nuno Júdice -
23/10/07
Confesso que acordo
Com o sabor dos teus beijos
Espreguiçando-se em meus lábios
Confesso que saio às ruas
Com as tuas carícias insones
Despindo a pele que me cobre
Confesso que em meus ouvidos
Ainda permanecem os teus gemidos
Musicando minhas lembranças
Confesso que minhas mãos
Guardam o mapa dos teus tesouros
Quando em tantas viagens te explorei
Confesso que meu corpo
Ainda tem tua fragrância
Debruçada nua em cada poro
Confesso que faço correr o tempo
Transformando horas em segundos
Para em teus braços me encontrar
Confesso que te deito em meus sonhos
Nos cetineos lençóis do prazer
Deixando as digitais do meu êxtase em ti
Confesso
E não quero perdão ou indulto
Por meu coração te respirar...
- Fernanda Guimarães -
Com o sabor dos teus beijos
Espreguiçando-se em meus lábios
Confesso que saio às ruas
Com as tuas carícias insones
Despindo a pele que me cobre
Confesso que em meus ouvidos
Ainda permanecem os teus gemidos
Musicando minhas lembranças
Confesso que minhas mãos
Guardam o mapa dos teus tesouros
Quando em tantas viagens te explorei
Confesso que meu corpo
Ainda tem tua fragrância
Debruçada nua em cada poro
Confesso que faço correr o tempo
Transformando horas em segundos
Para em teus braços me encontrar
Confesso que te deito em meus sonhos
Nos cetineos lençóis do prazer
Deixando as digitais do meu êxtase em ti
Confesso
E não quero perdão ou indulto
Por meu coração te respirar...
- Fernanda Guimarães -
22/10/07
O meu fim de semana foi prolongado, durou quatro dias.
E quando eu pensava que seria praticamente passado em casa... surpresa!
Na quinta feira a seguir ao almoço alguém me liga a dizer que o trabalho daquele dia tinha terminado, como tal estava a caminho das minhas bandas. Depois de lhe fazer companhia ao almoço, resolvemos ir até ao Castelo de S. Filipe onde passámos uma tarde fantástica. Na sexta feira, convidam-me para vir até Lisboa, pois tinha a tarde livre a partir das quatro horas. Lá nos encontramos nas Docas, de onde saímos por volta das nove e meia da noite. As temperaturas estavam óptimas mesmo depois do sol se ter escondido.
E foi muito boa a conversa que tivemos. Deu para aclarar certos assuntos que estavam ainda pouco esclarecidos. E deu também para perceber que do outro lado a vidinha não está nada fácil... Nada que me tenha surpreendido!!
Tive até o cuidado de dizer que aquele filme já eu o vi todo. Só que nessa altura os actores eram outros!!
O resto do fim de semana foi passado em casa, com grande parte da família.
E hoje cá estamos para mais uma semana que vai ser de muito trabalhinho.
17/10/07
16/10/07
15/10/07
Fim de semana
Sexta feira tinha um jantar combinado - o tal jantar para conversarmos e esclarecer alguns assuntos que não foram devidamente falados na altura - mas por volta das sete horas da tarde o jantar ficou sem efeito por motivos de trabalho. Fui ficando por aqui a trabalhar, acabei por ir jantar com a minha irmã que teve que vir a Lisboa e já no regresso a casa, ligam-me de novo a dizer que afinal o jantar já é possível outra vez, ou então tomávamos um café. Lá dei meia volta e dei comigo a caminho de Torres Vedras... A conversa durou tempo suficiente para tomarmos o café, tomarmos um copo e até para tomarmos o pequeno almoço juntos. Cheguei a casa eram dez e meia da manhã. Optei por esperar pelo almoço e só depois ir então dormir alguma coisa. Azar dos azares, a outra irmã resolveu ir lá almoçar o que se prolongou até ao jantar. Depois do jantar ligaram-me a perguntar se não queria ir tomar um café... a Torres Vedras! Lá fui eu de novo e regressei a casa já passava das cinco da manhã! Fui então dormir, o que já não acontecia há quase 48 horas.
Domingo, pouco passava do meio dia, toca o telefone e do outro lado dizem-me:
- Miúda, somos quatro e resolvemos ir almoçar contigo. Apetece-nos um choco frito de Setúbal.
Toca a levantar que estamos a caminho!!
Pronto, não tive outro remédio senão sair da cama e lá fomos todos almoçar, uns fresquíssimos carapaus assados e choco frito.
Depois fui para casa passar "pelas brasas" e ao jantar juntamos vários elementos da família.
Na verdade dormi poucas horas durante o fim de semana, mas valeu a pena porque fiquei esclarecida sobre certos assuntos que estavam a "mexer" muito comigo, por não entender o porquê de algumas atitudes. Como se pode passar do "não" para o "sim" de um dia para o outro, quando na verdade na melhor das hipóteses naquele momento era mesmo o "nim", até se ter a certeza do que se quer de verdade.
E quando me dizem: "Já estou arrependido de ter tomado uma decisão tão precipitada. Não está a ser nada fácil! Dou comigo diariamente a pensar em ti e a fazer comparações a todos os níveis..."
Pois, os erros por vezes pagam-se caro! Principalmente quando as pessoas se deixam levar pela conversa de outras, chantagens emocionais e lágrimas em ocasiões "estudadas"! Quando preferimos fazer a vontade dos outros, quando optamos pela "saída" mais fácil embora não seja aquela que se deseja, quando não temos a coragem de enfrentar os problemas e falar deles seriamente com quem de direito e resolve-los... mais tarde ou mais cedo tudo isso se revela, a crise que ficou apenas adormecida e não resolvida um dia desperta e lá está ela a bater-nos à porta de novo! E um dia não vai ser possível continuar a adiar a sua resolução, poderá ser apenas... tarde demais!!!
Enfim, eu cá continuo tranquila com a minha consciência e com a certeza absoluta de que não é por acaso que estou a passar por momentos menos bons na vida. Acredito que algo de bom está guardado para mim... porque eu mereço!!!
12/10/07
11/10/07
10/10/07
09/10/07
Foto: Monica Monimix
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
- José Carlos Ary dos Santos -
Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia
Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia
Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram
Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!
- José Carlos Ary dos Santos -
08/10/07
Foto: John
A Invenção do Amor
Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares, à porta dos edifícios públicos, nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrina da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor.
Em letras enormes, do tamanho do medo, da solidão, da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva,
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência,
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana.
Um homem e uma mulher,
que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis.
Apenas o silêncio. A descoberta. A estranheza de um sorriso natural e inesperado.
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna.
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente,
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta,
de um amor subitamente imperativo.
Um homem e uma mulher.
Um cartaz denuncia colado em todas as esquinas da cidade.
A rádio já falou, a TV anuncia iminente a captura.
A policia de costumes avisada, procura os dois amantes nos becos e nas avenidas.
Onde houver uma flor rubra e essencial,
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo.
É preciso encontrá-los antes que seja tarde.
Antes que o exemplo frutifique.
Antes que a invenção do amor se processe em cadeia.
Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos.
Chamem as tropas aquarteladas na província.
Convoquem os reservistas, os bombeiros, os elementos da defesa passiva.
Todos! Decrete-se a lei marcial com todas as consequências.
O perigo justifica-o.
Um homem e uma mulher
conheceram-se, amaram-se, perderam-se no labirinto da cidade.
É indispensável encontrá-los, dominá-los, convencê-los,
antes que seja tarde e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas.
Fechem as escolas.
Sobretudo protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio,
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram.
Segundo o director da sua escola, é um pequeno triste
inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão.
Aplicado no entanto. Respeitador da disciplina.
Um caso típico de inadaptação congénita, disseram psicólogos.
Ainda bem que se revelou a tempo.
Vai ser internado e submetido a um tratamento especial de recuperação.
Mas é possível que haja outros. É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença.
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que se fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade.
Está em jogo o destino da civilização que construímos,
o destino das máquinas, das bombas de hidrogénio, das normas de discriminação racial,
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos,
a verdade incontroversa das declarações políticas.
É possível que cantem, mas defendam-se de entender a sua voz.
Alguém que os escutou deixou cair as armas e mergulhou nas mãos,
o rosto banhado de lágrimas.
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra,
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz,
lhe lembravam a infância, campos verdes floridos.
Água simples correndo. A brisa das montanhas.
Foi condenado à morte é evidente.
É preciso evitar um mal maior.
Mas caminhou cantando para o muro da execução,
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um mistério halo de uma felicidade incorrupta.
Procurem a mulher, o homem que num bar de hotel
se encontraram numa tarde de chuva.
Se tanto for preciso, estabeleçam barricadas,
senhas, salvo-condutos, horas de recolher,
censura prévia à Imprensa, tribunais de excepção.
Para bem da cidade, da país, da cultura,
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência.
Os jornais da manhã publicam a notícia,
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena, debruada de acácias.
Um velho sem família, a testemunha diz
ter sentido de súbito, uma estranha paz interior,
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua.
- Daniel Filipe -
A Invenção do Amor
Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares, à porta dos edifícios públicos, nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrina da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor.
Em letras enormes, do tamanho do medo, da solidão, da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva,
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência,
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana.
Um homem e uma mulher,
que tinham olhos e coração e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis.
Apenas o silêncio. A descoberta. A estranheza de um sorriso natural e inesperado.
Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna.
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente,
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta,
de um amor subitamente imperativo.
Um homem e uma mulher.
Um cartaz denuncia colado em todas as esquinas da cidade.
A rádio já falou, a TV anuncia iminente a captura.
A policia de costumes avisada, procura os dois amantes nos becos e nas avenidas.
Onde houver uma flor rubra e essencial,
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta fechada para o mundo.
É preciso encontrá-los antes que seja tarde.
Antes que o exemplo frutifique.
Antes que a invenção do amor se processe em cadeia.
Há pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos.
Chamem as tropas aquarteladas na província.
Convoquem os reservistas, os bombeiros, os elementos da defesa passiva.
Todos! Decrete-se a lei marcial com todas as consequências.
O perigo justifica-o.
Um homem e uma mulher
conheceram-se, amaram-se, perderam-se no labirinto da cidade.
É indispensável encontrá-los, dominá-los, convencê-los,
antes que seja tarde e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas.
Fechem as escolas.
Sobretudo protejam as crianças da contaminação
uma agência comunica que algures ao sul do rio,
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram.
Segundo o director da sua escola, é um pequeno triste
inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão.
Aplicado no entanto. Respeitador da disciplina.
Um caso típico de inadaptação congénita, disseram psicólogos.
Ainda bem que se revelou a tempo.
Vai ser internado e submetido a um tratamento especial de recuperação.
Mas é possível que haja outros. É absolutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença.
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que se fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade.
Está em jogo o destino da civilização que construímos,
o destino das máquinas, das bombas de hidrogénio, das normas de discriminação racial,
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos,
a verdade incontroversa das declarações políticas.
É possível que cantem, mas defendam-se de entender a sua voz.
Alguém que os escutou deixou cair as armas e mergulhou nas mãos,
o rosto banhado de lágrimas.
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra,
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz,
lhe lembravam a infância, campos verdes floridos.
Água simples correndo. A brisa das montanhas.
Foi condenado à morte é evidente.
É preciso evitar um mal maior.
Mas caminhou cantando para o muro da execução,
foi necessário amordaçá-lo e mesmo desprendia-se dele
um mistério halo de uma felicidade incorrupta.
Procurem a mulher, o homem que num bar de hotel
se encontraram numa tarde de chuva.
Se tanto for preciso, estabeleçam barricadas,
senhas, salvo-condutos, horas de recolher,
censura prévia à Imprensa, tribunais de excepção.
Para bem da cidade, da país, da cultura,
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência.
Os jornais da manhã publicam a notícia,
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena, debruada de acácias.
Um velho sem família, a testemunha diz
ter sentido de súbito, uma estranha paz interior,
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua.
- Daniel Filipe -
Falando do meu fim de semana prolongado, digamos que não foi fácil. Estava a ver que não tinha tempo para dormir durante esses dias...
De quinta para sexta tivemos um jantar que já estava para acontecer há algum tempo. Decidimos que era naquele dia, vésperas de feriado, calhava mesmo bem. Éramos quatro colegas e ex colegas. Lá fomos jantar! Depois decidimos ir ouvir uns fados - uma das amigas teve que ir embora porque ia trabalhar às oito da manhã - e juntaram-se a nós mais três amigos. Saímos dos fados e demos um saltinho ao Xafarix para ver como paravam as modas. Lá estivemos um bocado, e optamos por ir então até ao Plateau. Como a noite já ia longa que tal comer alguma coisa? Lá fomos comer pregos no pão e sopa de feijão, a acompanhar umas imperiais. Quando saímos já o sol ia alto, pois eram oito e meia... Ainda bem que a nossa amiga resolveu ir para casa mais cedo porque senão certamente que teria chegado atrasada ao serviço...
De sexta para sábado, eram nove da noite e liga-me um amigo de Sintra a desafiar-me para me juntar a um grupo que estava lá em casa... lá fui até Sintra e quando dei a noite por terminada, já passava das quatro da manhã.
Sábado, foi noite de ficar em casa, até porque a minha filha resolveu sair com uns amigos e tinha que ir buscá-la - essa coisa de andar de carro com os amigos não me convence em absoluto - mas ainda me telefonaram para ir jantar a Lisboa e depois tomar um copo, mas tive que recusar o convite pois dei a vez à minha filha visto que eu já tinha tido a minha "dose" de saídas!
No domingo optei mesmo por ficar em casa, afinal também é preciso descansar...
04/10/07
Escolhe-me o caminho da saudade
E um sorriso anuncia-te em meus lábios
Trazendo-te todos os sóis
Que me iluminam em teus olhos
Desato-me de qualquer solidão
Envolta pelo abraço que ainda te guarda
Demora-se o meu pensamento em ti
Quando a manhã despede-se da última hora
Mira-me um céu colorido por todo azul
Enquanto uma brisa assobia-me lembranças
Folheando as páginas em que me escreveste
Com o idioma das tuas mãos
Escuta-se um silêncio em meu olhar
Quando vens ao meu encontro
E repetimos as palavras jamais esquecidas...
- Fernanda Guimarães -
E um sorriso anuncia-te em meus lábios
Trazendo-te todos os sóis
Que me iluminam em teus olhos
Desato-me de qualquer solidão
Envolta pelo abraço que ainda te guarda
Demora-se o meu pensamento em ti
Quando a manhã despede-se da última hora
Mira-me um céu colorido por todo azul
Enquanto uma brisa assobia-me lembranças
Folheando as páginas em que me escreveste
Com o idioma das tuas mãos
Escuta-se um silêncio em meu olhar
Quando vens ao meu encontro
E repetimos as palavras jamais esquecidas...
- Fernanda Guimarães -
03/10/07
Ontem almocei com um miúdo giro de quem gosto muito e a quem não via há já bastante tempo.
Foi delicioso - como sempre - conversar com ele e falar-lhe das minhas "desgraças". O que vale é que ainda dá para rir... tem dias miúdo, tem dias, mas tu consegues sempre fazer-me rir e ficar bem disposta. Fazes milagres!!
À noite, ainda estava por aqui, como hoje, e liga-me a minha amiga para ir jantar com ela porque também estava sozinha. Mas ela está sozinha só uma vez por outra... pronto!! Há pessoas com sorte...
Hoje, ainda estou por aqui a terminar um trabalhinho, sei que o meu Benfica está a perder - isto não está a correr nada bem - mas acho que ainda vai dar a volta! Ou então vai dar... uma volta! Veremos como isto termina.
Para quem vai viajar desejo uma óptima viagem, e aproveita bem o fim de semana por essas bandas!!
Eu, vou pegar no carro e regressar tranquilamente para casa. Ainda não foi hoje que apareceu alguém, nem deu noticias, que disse que precisava de ter uma conversa comigo. Daquelas olhos nos olhos. Ao vivo e a cores! Na verdade já não acredito que tal aconteça, mas no que depender de mim vai haver essa conversa, porque para pôr um ponto final neste assunto, preciso de respostas que não tive, e nunca gostei de assuntos mal resolvidos. Daqueles que deixam dúvidas - do que e como - poderia ter sido se tivesse feitos as perguntas que não fiz. Sejam quais forem as respostas, concorde ou não, há uma resposta que eu irei respeitar naturalmente.
Depois, sim, poderei tranquilamente dar por encerrado este assunto!
02/10/07
Foto: Policarpo
Pisarei minha solidão com renuncia e alegria e,
por entre caminhos assombrados,
resoluta virei até onde te encontres,
cortando as sombras que crescem como florestas.
Não saberei precisamente quando me verás,
nem se compreenderei a linguagem que falas,
e os nomes que têm as tuas realidades
e o tempo dos outros acontecimentos...
Mas o que, desde agora, sinto e sei com firmeza
é que a tua voz continuará chamando por mim,
obstinada,
embora eu não possa estar mais perto
nem mais viva,
e se tenha acabado o caminho que existe
entre nós,
e eu não possa prosseguir mais...
- Cecília Meireles -
Pisarei minha solidão com renuncia e alegria e,
por entre caminhos assombrados,
resoluta virei até onde te encontres,
cortando as sombras que crescem como florestas.
Não saberei precisamente quando me verás,
nem se compreenderei a linguagem que falas,
e os nomes que têm as tuas realidades
e o tempo dos outros acontecimentos...
Mas o que, desde agora, sinto e sei com firmeza
é que a tua voz continuará chamando por mim,
obstinada,
embora eu não possa estar mais perto
nem mais viva,
e se tenha acabado o caminho que existe
entre nós,
e eu não possa prosseguir mais...
- Cecília Meireles -
01/10/07
Está quase a acabar o primeiro dia de trabalho de mais uma semana que começou.
O meu fim de semana foi tranquilo. Sábado estive completamente na preguiça, acordei pouco passava das dez horas pois tinha um compromisso para as onze da manhã do qual fiquei despachada ao fim de uma hora. Da parte da tarde dediquei-me completamente a ouvir música, ler um livro, e tenho que admitir que também a pensar na vida! Nem sempre se consegue "desligar o botão" completamente.
Quando começou a chover lembrei-me de que precisava de fazer umas compras e resolvi então ir ao supermercado. Regressei a casa e lá continuei a minha leitura com música depois de arrumar as compras. Resolvi então comer alguma coisa, porque já eram horas e o estômago reclamava algum alimento.
Liguei então a televisão vi as noticias, as duas novelas da SIC e regressei à minha leitura. Entretanto estava a dar o meu Benfica e ligam-me de Lisboa para ir ver a casa da minha amiga o futebol, pois estava por lá um grupo pequeno mas bom...! Olhei lá para fora - para o tempo - e disse: Ok! Vou pensar no assunto! É claro que não saí de casa! Nem pensar!
Domingo foi então para sair e ir a um almoço de aniversário.
Voltei já um tanto tarde e fui direitinha para a cama.
Hoje... está quase na hora de ir para casa.
Até amanhã!
Foto: Elena V. Vasilieva
Em quem pensar, agora, senão em ti?
Tu, que me esvaziaste de coisas incertas,
e trouxeste a manhã da minha noite.
É verdade que te podia dizer:
"Como é mais fácil deixar que as coisas não mudem,
sermos o que sempre fomos,
mudarmos apenas dentro de nós próprios?"
Mas ensinaste-me a sermos dois;
e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios,
mesmo esse que mal corria quando por ele passávamos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba.
Como gosto, meu amor, de chegar antes de ti para te ver chegar:
com a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água fresca
que eu bebo, com esta sede que não passa.
Tu: a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti,
como gostas de mim, até ao fundo do mundo que me deste.
- Nuno Júdice -
Em quem pensar, agora, senão em ti?
Tu, que me esvaziaste de coisas incertas,
e trouxeste a manhã da minha noite.
É verdade que te podia dizer:
"Como é mais fácil deixar que as coisas não mudem,
sermos o que sempre fomos,
mudarmos apenas dentro de nós próprios?"
Mas ensinaste-me a sermos dois;
e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios,
mesmo esse que mal corria quando por ele passávamos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba.
Como gosto, meu amor, de chegar antes de ti para te ver chegar:
com a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água fresca
que eu bebo, com esta sede que não passa.
Tu: a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti,
como gostas de mim, até ao fundo do mundo que me deste.
- Nuno Júdice -
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