28/11/05

O sono tardava. O pensamento não tinha descanso. A angustia da incerteza, fez-me levantar e procurar um cigarro que fui fumar na varanda. Levo-o aos lábios e deixo-me envolver pela fumo, que saboreio lentamente. A certa altura percebo que a cada trago naquele cigarro é como se procurasse uma resposta, uma certeza, a uma única pergunta.
Enquanto o cigarro se consome, como se fosse a cinza das horas, continuo sem resposta.
O vento que corre dispersa o fumo, mas não consegue o mesmo efeito na memória nem na angustia que me consome.
Dou um nome e um corpo a tudo isto.
Ao longo dos tempos, na troca de um olhar e no toque de duas mãos, construi momentos e palavras. Modos de sentir que se foram modificando ao longo do tempo. Maneiras de te sentir, diferentes que se foram tornando imensas.
Para as ausências procurei desculpas, como se quisesse amordaçar a tua falta. As desculpas, já as não encontro. Já não se disfarça a verdade! A única verdade é o aumento da distância, e a incapacidade de fingir o desejo que não se sente. Porque o desejo que se sente, não se finge. Basta um olhar para o percebermos. Eu senti esse olhar, que agora nada me transmite. Tenho medo de olhar fundo nos teus olhos. Tenho medo dessa verdade que os olhos não escondem.
Sabia que esse dia iria chegar. Chegaria mesmo que eu não o esperasse.Como se fosse o encontro de um tempo já marcado, como se fosse o final das tuas ausências numa ausência sem fim.
Dou comigo dispersa entre pensamentos e memórias já tão vastas.
Quando regresso ao meu quarto, ainda sinto o teu cheiro e oiço os teus passos, como das vezes que ali estiveste. Fecho os olhos e sinto o teu toque, naqueles momentos de crueza, na expressão carnal da nossa forma de sentir os corpos.
Aqui, nestas páginas, pintei cada encontro nosso. De cores e de cheiros. Hoje as cores não existem e só o cheiro da tua ausência está comigo. Ali, naquele quarto já não existe um "nós" apenas eu, sem surpresas!!
Sempre houve, em mim, um silêncio de palavras faladas - não escritas - que deixei perdidas no tempo, mas encontraste-me sempre numa disponibilidade sincera, sempre limitada pela tua vontade. Penso que nunca soube ir ao teu encontro, nunca consegui derrubar as fronteiras que existiram entre nós, como nunca soube demonstrar-te o meu gostar. Nunca ousei pedir a tua mão num afago que me fez falta. Perdi-me em palavras escritas que nunca fizeram eco em ti! Para mim, elas bastavam-me! Havia sempre a máscara de um sorriso, que escondia as lágrimas de que nunca te falei. Eu bastava-me! Hoje a tua falta, e a distância - que é uma certeza - dói-me!
A diferença do que foste e do que és hoje é táctil. Já não se disfarça. Sinto, que já não sentes!
Um dia deste-me a perceber o teu desejo, como hoje me mostras o teu não desejo.
Em mim tudo ficou da mesma forma, por ti.
Apenas alguém mudou...
Tu!!!

Boa noite!