28/12/05

Penso que todos nós guardamos e conservamos algum objecto da nossa infância.
O que me tem acompanhado ao longo dos anos é uma almofada.
Isso mesmo. A minha almofada de criança, e estou a falar dos meus dois ou três anos de idade. Não é a almofada onde deito a cabeça, mas sim aquela em que durmo agarrada. Não por falta seja do que fôr, mas sim por vício, chamemos-lhe assim!
Ela tem sido a minha inseparável companheira ao longo de já alguns (?) aninhos.
Comigo partilhou os inocentes sonhos de criança, os medos, as doenças próprias da idade - a varicela, o sarampo, a papeira, uma hepatite - as revoltas quando pensamos que somos incompreendidos. Também foi a minha cumplice do primeiro amor na adolescência, em que acreditamos que estamos perdidamente apaixonadas e ficamos, no escuro a olhar o "nada" e adormecemos a sorrir. Partilhei com a minha almofada as lágrimas da partida para um País desconhecido, de que tinha medo e ao mesmo tempo uma grande curiosidade, e lhe prometi que fosse para onde fosse a levaria sempre comigo - cumpri a promessa. Mais tarde acompanhou-me nas lágrimas silenciosas das saudades grandes dos meus pais e da minha terra.
A expectativa do primeiro emprego, e o quanto me custou a adormecer na noite que antecedeu esse dia tinha eu apenas vinte anos.
Ela foi comigo quando me casei! E foi ela a primeira a saber quando descobri que ia nascer, dali a algum tempo, a minha «pequenissima» e certamente sentiu os seus primeiros movimentos, que mais tarde se tornaram mesmo uns pontapés deliciosos. Na minha segunda gravidez lá estava a macia almofadinha a partilhar comigo mais uma esperança de vida. O meu pequenino!
Mas também partilhou, muitas lágrimas, desgostos, desilusões, a perda dos meus avós!
Ela esteve sempre ali comigo, quando nos últimos tempos, lhe falei de alguém. E também, uma vez mais, me enxugou as lágrimas. Foi a companheira dos meus pensamentos. Sempre sem me interromper. Bastava-lhe estar comigo!
E não posso deixar de aqui registar, que das duas vezes que esse alguém esteve lá em casa, ali no meu quarto...ela lá estava também!
Penso que aprovou a minha escolha, e até amparou uma cabeça, que não era a minha!

Apenas nessas duas ocasiões, a partilhei com alguém!
E quando vou mais tarde para casa, a certa altura, lá está ela...a chamar por mim.
Até amanhã.