16/12/05

A um ausente

"Tenho razão para sentir saudade, tenho razão de te acusar. Houve um pacto implícito que rompeste e sem te despedires foste embora. Detonaste o pacto. Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo, sem consulta, sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair. Antecipaste a hora. Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas. Que poderias ter feito de mais grave do que o acto sem continuação, o acto em si, o acto que não ousamos nem sabemos ousar porque depois dele não há nada? Tenho razão para sentir saudades de ti, da nossa convivência em falas camaradas, simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança. Sim, tenho saudades. Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e da natureza, nem me deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste, porque te foste."

- Carlos Drumond de Andrade -

Sempre se descobre alguém que escreve o que nós gostariamos de dizer em determinada altura. Porque na verdade, há atitudes que não se entendem, que temos dificuldade em aceitar porque não há motivos para que assim seja.
Se me queres magoar, não o faças com silêncios, com ausências, ou indiferença.
Magoa-me simplesmente com palavras. Com a verdade! Ou com um sorriso!
Nada me magoa mais do que a lembrança de um sorriso teu...!