04/05/07

"A Mentira"

A mentira reveste, habitualmente, duas formas. A da omissão da verdade ou a da sua reconstrução.
É à mulher que se atribui, quase sempre, a prática mais frequente deste defeito. A experiência mostra, contudo, que tal não é assim. Talvez porque o homem tenha mais a esconder do que a mulher!
A mentira é, até, uma das queixas que, mais vezes, é invocada pelas mulheres contra os homens.
Vejamos, então, se as duas formas de mentira se equivalem na gravidade, ou se entre elas se podem estabelecer níveis de graduação.
Quando se omite a verdade há uma intenção deliberada de reservar, para foro próprio, factos ou situações que podem ser, por outros, considerados como também lhes dizendo respeito.
É, de facto, muito habitual no homem a mentira por omissão, a qual vai desde as questões profissionais às questões mais particulares. Esta situação é sentida, pela mulher, como uma forma de amor menor.
Quando se constrói ou inventa a verdade há não só a intenção deliberada de esconder mas a vontade expressa de levar o outro a acreditar em factos falsos, de o conduzir, propositadamente, por um caminho que pouco tem a ver com a realidade.
Analisemos um exemplo muito comum, que se refere à vida do casal. Suponhamos que, por qualquer motivo, o marido não deseja que a mulher saiba quanto ele ganha. Nesse caso, ele omitirá tudo quanto respeita aos seus rendimentos e evitará todas as questões tendentes a esclarecer esta matéria.
Mas um eventual excesso de perguntas poderá, in extremis, levá-lo a optar pelo esquema de reconstruir a verdade, mentindo. Tudo, no fundo, para não ter que prestar o esclarecimento inicialmente pretendido.
Uma outra forma de alterar a verdade, infelizmente muito arreigada em certos meios, é o uso do boato. Este destina-se a levantar suspeitas, consideradas úteis a quem o propaga.
E como quando há fumo se supõe, sempre, que haja fogo, ele é o veículo ideal para, por detrás do anonimato, se fazer espalhar tudo quanto interessa denegrir.
Finalmente há, ainda, a chamada mentira piedosa. Pode ser tão grave quanto as anteriores, ou mais ainda. Mas tem o aspecto simpático de se poder sempre dizer que foi usada para poupar ao outro o desgosto que a verdade lhe causaria!
Pessoalmente creio poder afirmar que aquilo que a mulher menos perdoa é a mentira. Venha ela de quem vier. Mesmo dos entes mais próximos. Pior, até, se vier destes.


- Helena Sacadura Cabral in «Bocados de Nós» -

Porque não sou diferente de ninguém, também não aprecio a mentira. Mas aprecio bastante a verdade - por mais terrível que seja - e, acima de tudo, a lealdade. Penso que seria capaz de perdoar uma infidelidade, mas uma falta de lealdade faria um grande estrago em mim. Como nunca passei por uma situação destas, não sei como iria reagir! O certo é que a idade leva-nos a parar para pensar, o que nem sempre acontece quando ainda somos muito jovens! Temos a tendência de reagir a "quente" e de imediato, o que normalmente não ajuda a resolver o que já não está bem. Pensar com o coração não resulta, até porque o coração não se fez para pensar....