13/03/06

Porque hoje apetece falar de ti, aqui estou de "papel e caneta" na mão, a olhar esta folha branca à minha frente!
Há dentro de mim uma revolta pela necessidade absoluta de o fazer. É como querer e não querer, dizer sim e não, ao mesmo tempo. Nada perco e nada ganho ao fazê-lo. Simplesmente já não importa. Porque sim!
Um dia disseste-me - ou melhor - escreveste-me: a minha vida vai mudar muito a partir de agora! Não foi a tua vida que mudou. Foste tu! E só para mim tu mudaste. Eu não te perdi, porque também nunca te tive. Tu é que me perdeste! Porque me tiveste totalmente, embora nunca tenhas dado conta disso!
Nada tens para recordar de mim, porque não foi importante. E tu não sabes o tanto que eu tenho para lembrar. Os momentos tão bonitos que ficaram só para mim e a que só eu dei importancia. Sabes, no fim disto tudo, eu é que ganhei! Porque tenho a sensação que, não deve ser bom, nada ter para recordar, de alguém com quem partilhamos momentos - mesmo que poucos - de sair da vida de alguém que foi só nosso, mesmo sem querermos, e nada ficar na nossa memória, que deixe saudades ou até um carinho especial. Hoje não tenho dúvidas, de que quem ganhou fui eu!
Cheguei a ir ter contigo e estarmos juntos apenas meia hora. Mas aquela meia hora era vivida como se fosse a última, com toda a intensidade, com toda a paixão que podia demonstrar, e com a tua frieza. Até disso gostava. Eu amava aquela tua forma fria de me tratares. Era isso que podia ter de ti? Pois que fosse, eu gostava, eu queria! Era fantástica a capacidade que tinha para justificar essa forma de seres para mim. Inventava desculpas, acreditava nelas, inevitalvelmente convencia-me de que era assim, eu é que estava errada quando me encostava a ti para sentir esse corpo, quando te dava um beijo porque não resistia a essa boca, quando simplesmente tocava as tuas mãos, quando fechava os olhos para saborear a tua voz, quando sentada à tua frente demorava uma eternidade a almoçar, só porque me perdia a contemplar-te. Tudo isto era errado!
Sabes Charme - há quanto tempo eu não te chamava assim? - as noites depois de ti eram deliciosas, quando já na minha cama, tinha como que um ritual que era reviver os momentos passados contigo. Era como se estivesses ali, naquela cama comigo de novo. Os lençóis ainda tinham as marcas do teu corpo, o teu cheiro, de momentos só nossos, de momentos do maior amor que conheci, do maior prazer que senti. E sempre tive a certeza, de que os teus pensamentos eram vazios de mim, depois de nos separarmos, quando partias à pressa para outras vidas que desconheço. Naquele quarto mantinha viva a tua presença, para além das paredes que mostravam as sombras da tua ausência. Mas a almofada ainda tinha o som dos teus suspiros, das tuas palavras, quando perdias o controlo sobre o que te rodeava e me olhavas inclinada sobre o teu corpo. Por momentos, deixavas a frieza de lado, e então havia sinceridade no prazer que me demonstravas, era como se ficasses desnudado dessa armadura fria que voltavas a vestir logo de seguida, enquanto me deitava sobre ti e ouvia esse coração bater, como se quisesse certificar-me de que também tinhas um.
Quando despertava daquele reviver os momentos contigo, imaginava-te deitado numa cama vazia de tudo o que é meu. Sem uma ruga no lençol feita pelo meu corpo, sem o meu perfume, sem a marca da minha presença na almofada que te recordasse as minhas debilidades, as fragilidades da minha entrega total. Nada! Nem uma lembrança! De ti, eu tinha tudo comigo.
E então, dormia tranquilamente, embalada na doce lembrança dos momentos que me tinhas dado. Uma vez por outra sonhava contigo, no meu subconsciente tinha-te de novo, sentia-te de novo, e de novo desaparecias numa qualquer esquina de uma rua perdida, num caminho desconhecido para mim...
E quando amanhecia, e o sol mostrava que os sonhos davam lugar a novas realidades, até a alma me doía!
Depois de ti, só o silêncio que ainda restava no meu quarto, na minha cama os lençóis com o teu cheiro diziam-me que na verdade tinhas estado comigo naquela noite!!
Ao longe, ainda o eco da porta que se tinha fechado atrás de ti...
É com o coração na ponta dos dedos que escrevo, porque hoje me apetece falar de ti.
Mas já não sou capaz de dizer mais nada...
Boa noite!