O jantar já estava combinado desde sábado passado. Quando entrei naquele carro, no lugar onde me iria sentar, aguardava-me um lindíssimo ramo de rosas brancas, tão perfeitas que nem pareciam verdadeiras.
- Normalmente oferecem-se rosas vermelhas, eu gosto de ser diferente e resolvi trazer-te essas brancas.
- Obrigada, são lindas!
Tomamos a direcção da vinte e quatro de Julho, e de repente, dei comigo a desejar que o jantar não fosse no BBC. Seria uma coincidência desagradável para mim. Fiquei aliviada quando percebi onde iamos parar. Aguardava-nos uma mesa já reservada.
Conversa banal e bem disposta. Tenho que admitir que o senhor ali sentadado na minha frente, é uma companhia agradável, interessante e discreto na forma como me falou da sua vida, o que faz, o que aprecia e gosta de fazer nos seus tempo de lazer.
Inevitavelmente dou comigo a fazer comparações - já no regresso a casa - entre a pessoa que esteve ali minha frente e alguém.
Andei uns anos para trás, e revivi um jantar no BBC. Lembro-me perfeitamente da emoção que senti, no trajecto até ao restaurante, quando pelo canto do olho, analisava aquele homem que me conduzia eu não sabia para onde, nem me importava, porque o que contava era que estava ali com ele, que «mexia» comigo de uma forma desconhecida, como se existisse algo naquele corpo que me chamasse constantemente. Um chamar em código que só o meu corpo entendia. Lembro-me exactamente do que comi, lembro-me como se fosse hoje, da conversa que tivemos. E de quando a sua mão agarrou a minha.
A partir daí a minha vida pautou-se em histórias de sentir, e dei comigo envolvida em emoções que se escondem na fantasia do viver, como se escrevesse um poema sem o pensar, em formas que se vivem sózinhas e me encantam o olhar. Porque foi sempre sózinha que vivi esta paixão.
É um caminho que faço e sei não ter sentido, não ter rumo, nem um objectivo. Apenas me vou refugiando no sonho.
Agora, ao escrever estas palavras, dou comigo a sentir uma certa revolta cá dentro, porque sei que o que gostaria de escrever aqui, era que tinha jantado com aquele homem que um dia me levou ao BBC, que tinhamos comido uma deliciosa massa com salmão feita por ele, e que terminei a noite, guiada nos seus braços a dançar o "Je t'aime, moi non plus", quando fechei os olhos e por momentos fiz de conta que a letra que ele me cantava ao ouvido era verdade. Era realmente o que ele sentia. Apenas por alguns instantes era realidade!
Há dias assim, que desejamos ser a realidade como no sonho que nos levou até aquele acordar.
Ontem, fiz uma promessa a mim mesma! Porque a vida é realidade! Não é sonho!