28/04/06

Quando a minha amiga me falou em ir almoçar, eu estava com uma angústia do tamanho do mundo. Parecia que até tinha alguma dificuldade em respirar. E nem sabia bem o porquê daquele meu estado. É daquelas coisas que não sabemos explicar. Penso que andei a semana toda a alimentar uma esperança. E a semana chegou ao fim...!
Mas eu nunca consigo dizer a esta miúda um «não»! Lá fui, com o melhor sorriso do mundo, e a pedir a Deus que me ajudasse a manter assim até ao final do almoço. Brincamos, falamos do nosso tempo de estudantes, contamos histórias, e tudo isto por causa de uma conversa que tive ontem com a minha filha e que lhe relatei.
E consegui! Consegui disfarçar toda aquela angústia que tomou conta de mim. A esta altura acho mesmo que a minha vida é um eterno disfarce. Só ainda não descobri onde vou arranjar toda esta capacidade de não mostrar aos outros as minhas fraquezas, as angústias, as tristezas que também tenho uma vez por outra.
A certa altura, já quase no final do almoço, ela diz-me que precisa de ter uma conversa séria comigo. O meu coração deu um pulo, cá dentro! Lembro-me de em breves segundos ter pensado cá para mim:
- Meu Deus, ajuda-me. Faz com que não seja o que estou a pensar...!
E ela, com toda a sinceridade que sempre lhe conheci, falou-me do que tinha para me dizer.
Perdemo-nos na conversa e no tempo. E quando demos conta, já estavamos atrasadas.
Já no carro, disse-lhe:
- Não sei se tu tens realmente noção da grande amizade e carinho que tenho por ti. Nunca duvides disso. E acredita, que poderás sempre, mas sempre, contar comigo naquilo que precisares.
Agora aqui sózinha, enquanto escrevo estas palavras, com a mesma angústia que tinha, penso no que lhe disse, e que é muito verdadeiro e sentido.
Por motivos que não vou dizer aqui, até podia dar-me com ela só a nível de serviço, e manter uma distância fora disso.
Mas só uma verdadeira amizade, tem capacidade para ultrapassar outras situações, que não temos como alterar, porque afinal as pessoas não têm a culpa de ser assim.
Talvez quem me estiver a ler não entenda o que quero dizer.
Mas eu precisava de aqui dizer isto, para mim é importante e faz todo o sentido.
Agora, vou ali num instante limpar esta lágrima estupida que teima em cair.
Mas volto já! Isto dá forte mas passa depressa!!!
Eu sou mesmo assim. Tenho as lágrimas à flor da pele.
O meu pai em miúda chamava-me "chorona"!
É engraçado que, por falar nisso, recoro-me que a última vez que ele me chamou "chorona" foi em 1979, quando regressei a Moçambique de férias e não via os meus pais há três anos. Comecei a chorar assim que saí do avião e pisei de novo aquela terra maravilhosa, e quando vi os meus pais ali, a alguns metros de nós, de abraços abertos...
O meu pai, olhou para mim e disse:
- Então chorona, já vens a chorar?
Eu, não consegui responder! Só consegui dizer: Pai!
Mas nunca mais esqueci aquelas palavras.
Já passou! Já estou bem! Muito bem, de verdade.