13/02/07

Com um brilhozinho nos olhos

Perto de minha casa há uma florista. A avaliar pelo entra-sai, há muita clientela a comprar flores (e a que preços!). Mas hoje, não é a clientela no geral que me interessa. São os homens. Reparo com atenção quando saem com os seus ramos de flores (gostam muito de rosas, os cavalheiros), com alguma timidez, embaraço, sem jeito, a atravessar a rua em passo de corrida, pode ser que ninguém os veja, Deus queira que ninguém os aborde. O homem com quem hoje me cruzei, por exemplo, com um valente ramo de flores, quase que poderia dizer que sorria. Um sorriso apertado, envergonhado, indecifrável, mas era um sorriso. Como se o acto de transportar aquele ramo não estivesse na sua natureza, receoso que alguém lhe adivinhasse os pensamentos, o destinatário, lhe descobrisse a intenção, lhe capturasse o momento. No entanto, aquele homem sem jeito e possivelmente sem hábitos de florista, sorria. Aquelas flores tinham uma história, talvez fossem o início ou mais um momento de uma história. Um romance, pensei logo. Um ramo de flores para fazer alguém feliz. E quando o homem se cruzou comigo, percebi que a felicidade era também aquele momento. Onde estarão agora aquelas flores? Abandonadas, espero, mas não esquecidas. Como lhes compete.

- Miss Pearls -

Não foi por acaso que escolhi este texto. Amanhã é dia dos namorados! É aquele dia em que as floristas não têm "mãos a medir", na azáfama de fazer lindos ramos de flores, para os namorados. Haverá outros presentes, uns mais caros, outros valem pelo significado que têm. Perfumes, relógios, jóias, um telemóvel que ela ou ele tanto queriam, um poema, o cd preferido onde está aquela música que lhes recorda determinado momento tão especial, ou até um simples postal com dizeres sobre esse tal de «amor», que todos procuramos ao longo da vida. E muitas sms com lindas palavras e muitas promessas.
Normalmente estas ofertas são entregues durante um jantar romântico à luz de velas. Tudo tão bonito, tão doce, tão (e)terno, tão sentido. Naquele momento é verdadeiro!
Mas hoje quero aqui falar de flores, ou melhor, de rosas. Haverá alguma mulher que não goste de receber um ramo de rosas, sejam elas vermelhas (a cor da paixão), cor de rosa, amarelas, azuis ou brancas? Todas as mulheres ficam fascinadas perante um ramo de rosas. Nenhum presente substitui a beleza viva das flores em geral e das rosas em particular.
Recordo um namorado que tive nos meus tempos de adolescente, que vive há muitos anos noutro continente, e que estive sem ver demasiado tempo, um dia - sem data especial - mandou entregar aqui no meu serviço um ramo com 27 rosas. A acompanhar um cartão que dizia: "uma rosa por cada ano que estive sem te ver! Espero não ter que acrescentar mais algumas a estas! Com elas vai um segredo meu até ti. Um segredo que guardei por tantos anos...". O certo, porque a vida é mesmo assim, é que estivemos 27 longos anos sem nos vermos. Quando ficámos frente a frente eramos dois desconhecidos! Apenas lhe reconheci o olhar sincero e profundo, o carinho e a ternura que sempre encontrei na sua voz, nas palavras, nos seus gestos e no abraço apertado com que me brindou.
As rosas que me enviou eram perfeitas, como se tivessem sido escolhidas uma a uma, as pétalas aveludadas, o perfume suave, pareceu-me até ver nelas uma certa vaidade pela sua perfeição absoluta. Lembro-me do que senti quando lhes peguei. No primeiro momento fiquei encantada a olhar para toda aquela beleza, de seguida foi a procura do cartão, a curiosidade quase infantil do "de quem será?", porque na altura não havia ninguém especial a quem pudesse atribuir aquela oferta, pensava eu! Quando li o cartão a surpresa foi grande, um ramo de rosas enviado por alguém do outro lado do mundo, tão longe. E finalmente senti uma "ponta" de preocupação, pois aquelas flores eram a confirmação viva de algo mais do que a amizade que nos ligava há tantos anos. Eu sabia. Tinha a certeza do segredo que elas me traziam. Falavam de um sentimento que eu não retribuia, que jamais imaginei continuasse vivo naquele homem de quem estive afastada tantos anos. Quando nos separamos não eramos mais que dois adolescentes, quase ainda duas crianças. Ele nunca me esqueceu. Procurou-me e encontrou-me! Cada um seguiu a sua vida - em países e continentes diferentes separados por um oceano imenso - para mim ele será sempre o amigo, para ele serei a mulher que de verdade amou, desde adolescente. Hoje, quero aqui lembrar esse homem. O amigo!
Porque nem sempre é possível amar quem nós desejamos.
Nem sempre é possível esquecer quando queremos.
Nem sempre recebemos rosas de quem amamos.
Mas as rosas falam de amor quase sempre!
E quem não gosta de uma linda declaração de amor, contada, segredada, através do perfume e da beleza perfeita de um ramo de rosas, sejam elas de que cor forem?