Muito se falou - de forma indignada - sobre as palavras de Manuel Pinho, quando da visita à China com o Primeiro Ministro.
Ontem, no espaço "Opinião" do DN, leio:
Quem paga manda
Ontem, no espaço "Opinião" do DN, leio:
Quem paga manda
Sinceramente, o que Manuel Pinho, disse na China, e José Sócrates depois confirmou, não me aquece nem arrefece. Na verdade, o ministro não mentiu quando falou da realidade dos salários em Portugal - mas a autoridade do ministro, nessa como noutras matérias, é diminuta. Se ele dissesse que em breve os salários portugueses estariam ao nível europeu, seria acusado de fazer demagogia, mas o resultado era o mesmo. Ninguém dá grande importância. Quem manda nos salários, nos eventuais choques tecnológicos, e na estratégia nacional, são as empresas. Na maioria dos casos, com sede em Espanha ou noutro qualquer país. O ministro Pinho manda pouco. E, pelos vistos, mal.
Nessa medida, há coincidências que parecem "combinadas" para nos confrontar com a realidade: nos últimos dias, e depois de o grupo espanhol Prisa ter finalmente assegurado o controlo da empresa Media Capital - detentora, entre muitos outros activos, da TVI - soube-se, a propósito das OPA que animam o mundo financeiro, que a participação espanhola no nosso mercado bancário ultrapassa já os 20%, e não quer parar de crescer. Ao mesmo tempo, a Notícias Magazine fazia capa, domingo passado, com os jovens portugueses que escolheram Madrid para viver e se mostram orgulhosos e felizes com a sua escolha.
Nada disto foi combinado, mas parecia, para chegarmos ao ponto a que chegámos: um país não existe, no século XXI, quando não tem poder sobre a sua economia, quando depende mais dos outros países do que de si próprio, e quando permite, por manifesta falta de alternativa, tornar-se uma sucursal de outra economia qualquer. Portugal, manifestamente, não tem poder e é hoje uma sucursal. Além do território (e é duvidosa a ideia de território desde que Schengen acabou com as nossas fronteiras), temos uma língua, uma história e uma cultura. Ninguém quer acabar com qualquer destas componentes, que até podem ser rentabilizadas turisticamente, tal como o fado ou o Eusébio. O resto, bom, o resto é de quem aproveita as oportunidades - as mesmas que Portugal nunca aproveitou.
Foi a Espanha? Excelente. Venham a França, a Itália, a Irlanda, venha mesmo a China ou o Japão. Por mais ministros que passem pelo Governo, o que fica, depois da espuma se desvanecer, é essa realidade global que, no limite, até permite a Manuel Pinho dizer o que pensa sobre as vantagens portuguesas. Aqui ou na China, quem amanda efectivamente nos nossos salários ri-se do ministro. E decide como entende.
- Pedro Rolo Duarte in Diário de Notícias -
Verdade, verdadinha!!
Gostei.
Olá, bom dia!