24/04/07

Foto: desconhecido

METADE

"...E que a força do medo, não me impeça de ver o que anseio.
Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que eu ouço ao longe, seja linda, ainda que triste.
Que o homem que amo seja para sempre amado mesmo que distante.

Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor, apenas respeitadas, como a única coisa que resta a uma mulher munida de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme na calma e na paz que eu mereço.
E que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que penso e a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesma, se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflicta em meu rosto, um doce sorriso, que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais que uma simples alegria para me fazer aquietar o espírito.
E que o teu silêncio me fale cada vez mais.

Porque metade de mim é abrigo, mas a outra metade é cansaço.

Que a vida nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é plateia, e a outra metade canção.

E que a minha loucura seja perdoada...
Porque metade de mim é amor. E a outra metade... também!"

- Oswaldo Montenegro -